sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Curso - Tactical 3 Gun







Estes são os meus apontamentos relativos ao curso "Tactical 3 Gun", que tirei em Miami em 2015. Trata-se daquilo que me ficou na memória, referente a esse dia.

Este texto está integrado no relato da viagem a Miami 2015. Quem já leu este relato não vai encontrar aqui informação adicional. Faço esta separação para facilitar a vida a quem gosta de tiro e de armas, mas não se interessa por viagens.

As imagens e vídeos foram captados com um iPhone 5S e com uma câmara SJ4000 que é uma imitação de GoPro. Apesar de ter uma qualidade decente, esta câmara ficam bém atrás da GoPro.

Quem estiver interessado pode adquirir uma GoPro Hero 4 Silver Edition ou Black Edition  com cartões de memória, de alta qualidade, adequados à gravação de vídeo com capacidades de 32GB ou 64 GB, na Amazon de Espanha.




Mais uma alvorada às 05:30h para mais um dia bélico. Desta vez cheguei ao lobby uns minutos antes do Andy. A viagem foi secante como é hábito. Pelo menos o tempo estava perfeito, com sol, sem vento e com temperatura amena.

O Andy avisa-me várias vezes que o dia vai ser extremamente cansativo, mas eu não dou importância. Preparamos o material todo, carregamos as armas e começamos com uma breve formação de caçadeira. Apesar de possuir uma Benelli Super 90, nunca tive formação neste tipo de arma e já há muito tempo que não uso uma caçadeira.

A caçadeira que viu usar é a Beretta 1310 Tactical. Segundo o Andy é a caçadeira semi-automática mais leve do mercado. Não sei se é a mais leve, mas é muito, muito leve. 




A caçadeira transporta-se sempre com o carregador tubular cheio de munições, mas sem cartuxo na câmara. Este estado chama-se "crises ready", o que se pode traduzir por "pronta para o carro de patrulha". Éneste estado que os policias nos EUA transportam as suas caçadeiras. Numa prova de 3 gun, deve-se colocar a arma neste estado quando esta já não é necessária e a vamos deixar num local apropriado.

Esta Beretta, e muitas outra caçadeiras semi-automáticas e de repetição só retiram um cartucho do carregador tubular se o gatilho for premido ou se se premir um botão na caixa da culatra. Esta funcionalidade existe para podermos puxar o manobrador atrás retirar o cartuxo que estava na câmara e trocá-lo por outro, de outro tipo. Por exemplo, imaginem que temos a arma completamente carregada com chumbo para aves e uberemos fazer um tiro a longa distância usando uma bala. Neste cenário, e partindo do princípio que a arma está pronta a disparar, apenas temos que puxar o manobrador atrás para ejetar o cartuxo que está na câmara, segurar o manobrador e colocar uma bala na caixa da culatra libertando o manobrador para fechar o mecanismo.

Deve-se ter sempre a arma no estado de cruiser ready, com o mecanismo armado e com o carregador bloqueado. Isto é válido para as provas de 3 gun e para o dia a dia de trabalho policial ou para um civil que use uma caçadeira para se defender. Por norma o carregador está carregado com chumbo para aves ou com zagalote, mas pode ser necessário disparar uma bala a longa distância. Quando se quer usar a arma com o cartuxo que estar no carregador, temos que premiar o botão que liberta o carregador e puxar o manobrador à retaguarda, libertando-o de seguida. Se pretendermos disparar um cartuxo que não está no carregador, puxamos e seguramos o manobrador à retaguarda, colocamos o cartuxo na caixa da culatra e libertamos o manobrador. Se o carregador não estivesse bloqueado, não tínhamos a versatilidade de disparar uma munição que não estivesse previamente no carregador.

Existem duas forma para por cartuxos na caixa da culatra. Numa, segura-se a base do cartuxo com o indicador e o topo com o dedo mínimo da mão esquerda e faz-se a alimentação por cima da caixa da culatra. Na outra, segura-se a base do cartuxo com o dedo mínimo e o topo com o indicador é faz-se a alimentação por baixo da caixa da culatra. Para mim, a segunda forma é mais fácil e rápida.  Usei sempre este método.

Começamos os exercícios práticos com uns tiros rápidos a curta distância com chumbo intercalados cim chumbos a cerca e 50 m com bala. Consigo fazer a transição de chumbo para bala com relativa facilidade, desde que não a tent fazer demasiado depressa. Quando me apresso cometo erro atrás de erro. Esta Beretta tem umas miras fantásticas, muito parecidas com as da AR-15, com uma massa de mira tipo poste e uma alça diótrica, que facilitam bastante a pontaria a grandes distâncias. Consegui fazer tiro a 100 m com grande facilidade, disparando balas.

Depois de alguns exercícios com a caçadeira comecei a sentir-me à vontade com ela. Estava na altura de fazer algumas pistas com as 3 armas. Não vou descrever aqui todas as pistas que fizemos porque algumas dessas pistas estão disponíveis em vídeo no Dailymotion. Vou apenas descrever genericamente as pistas e falar das minhas dificuldades e do que gostei mais de fazer.




Pela amostra que tive uma pista de 3 gun tem uma componente de longa distância que se faz com a carabina ou fuzil e que pode ir até 300 m, uma componente de média distância que se faz com a caçadeira é uma componente de curta distância para fazer com a pistola. O atirador começa a pista com as 3 armas, podendo abandonar a caçadeira ou a carabina quando deixar de necessitar delas, durante o percurso. Se uma das armas longas falhar ou se o atirador ficar sem munições, deve usar a pistola para fazer o que não conseguiu fazer com a arma longa.

Apesar de ser óbvio digo-vos que este tipo de prova é muito divertido. Andar a correr com 3 armas às costas, disparando em movimento contra vários alvos e fazendo tiros a longa distância como se fôssemos snipers, faz até o mais cinzento dos humanos sentir-se como uma criança de 9 anos a brincar aos índios e aos Cowboys. Este tipo de exercício é das coisas mais divertidas que se podem fazer com armas de fogo. É como estar na guerra com a vantagem de ninguém disparar contra nós.

Claro que esta atividade toda tem um custo. É extremadamente cansativa. Ao fim da primeira pista já eu arfava com falta de ar e chamava a minha mãezinha. Para quem passa toda a vida sem fazer qualquer tipo de exercício físico, isto é inacreditavelmente duro. Como eu gostava do período a seguir a uma pista em que me podia sentar um pouco a reabastecer os carregadores.

O que mais me custou foram os 100 m de corrida à máxima velocidade para, em seguida, fazer tiro com a carabina a 100 m de distância em alvos microscópicos. É muito difícil estabilizar a arma quando o coração pára-quedas querer sair pela caixa torácica. Cada vez que sustinha a respiração para fazer um disparo parecia e tinha estado submerso durante 10 minutos. Apesar de tudo isto apenas falhei um dos 5 tiros que fiz nestas condições. Este tipo de exercício é muito útil para percebermos as nossas limitações e para nos habituarmos a disparar em condições difíceis.




Outro exercício útil paramos habituármos a disparar em circunstâncias e difíceis e posições pouco convencionais é a parede dos 9 buracos. Trata-se de um instrumento de torura composto por uma parede de madeira com 9 orifícios através dos quais temos que disparar e que obrigam às posições mais complicadas possíveis, principalmente para alguém com uma barriga de dimensões generosas, pouco ágil e muito nabo. Não consigo descrever o que eu lutei contra esta parede.

O desafio da parede dos 9 buracos era muito simples, acertar um tiro num alvo metálico de grandes dimensões a partir de cada buraco da parede, ou seja, 9 buracos, 9 tiros. Sem a parede, numa posição confortável, isto fazia-se de olhos fechados, disparando apenas com a mão esquerda e de costas para o alvo, usando um espelho. Através dos orifícios a coisa complica-se bastante. Se houve algumas vezes é que fiz o exercício com 12 ou 13 tiros, houve bastantes mais onde usei 20 ou 30. Vergonhoso. O Andy gozava à descarada. Não consegui perceber se eu era dos piores a fazer este é exercício, mas acho que sim.

E se isto era difícil com pistola, era ainda pior com a carabina. Com a carabina apoiada nos buracos era fácil acertar no alvo, mas sem apoio era extremamente difícil. Muitos dos buracos exigem que se dispõe com a arma na diagonal ou na horizontal. Devido à distância entre a mira telescópica e o cano ainda fiz vários tiros através da parede de madeira. A julgar pelos vários remendos, não fui o primeiro a estragar aquele instrumento de tortura. Se regressar tenho que fazer isto de novo para ver se melhoro.

Aproveito para tecer uma crítica a este curso. Eu esperava que o Andy ensinasse algumas técnicas para ultrapassar a parede dos 9 buracos mais facilmente ou para fazer algumas coisas mais rápidas. Basicamente esperava que este curso servisse para quem compete em provas de 3 gun conseguisse melhores pontuações ou, no meu caso, quando começar no IPSC, fazer tempos melhores e obter melhores classificações. Infelizmente não foi isto que aconteceu. O Andy prepara as pistas, explica o que pretende e eu faço da melhor forma que consigo. Não me corrige o que faço mal nem reforça o que faço bem. O Andy vê este tipo de curso como um "fun shoot". É pena, pois eu esperava bastante mais.

Outra coisa da qual não gostei foi da gestão das munições. No início do dia o Andy deu-me 300 munições de pistola, mais umas quantas que me tinham sobrado do outro dia, deu-me um caixote gigantesco cheio de cartuxos, que devia ter mais de 300, 15 balas de calibre 12 e 160 munições de calibre 5,56 mm NATO. A meio do dia olhou para as minhas munições e disse-me que estava quase a ficar sem munições de 5,56. Só após alguma insistência e de contar as caixas vazias no lixo é que me deu as restantes munições, algumas das quais nem sequer estavam em caixa, estavam já colocadas em carregadores. Fiquem com a sensação de que me estava a querer enganar com quase 150 munições. Espero estar enganado, mas ainda hoje não consigo explicar de forma conveniente aquele episódio.




Voltando às pistas e à caçadeira. Para tiros a mais de 50 m, com arma longa, o Andy recomenda que se dispare na posição deitado, para aumentar a taxa de sucesso. A caçadeira não é uma exceção a esta regra e tenho que admitir que disparar deitado facilita bastante o tiro. Infelizmente, isto pode trazer problemas adicionais quando se usa uma caçadeira e se atiram cartuxos diretamente para a caixa da culatra com as mãos sujas de areia e pedaços de folhas secas. Passado pouco tempo de utilização nestas condições, a Beretta começou a ter problemas de alimentação. O cartuxo vazio extraia sem problemas, mas o obturador não fechava com o novo cartuxo. Tinha que dar uma pancada com a palma da mão no manobrador para fechar o mecanismo.

Quando nos começamos a deparar com este problema, o Andy resolveu inundar de óleo todo o mecanismo interno da arma, o que só veio agravar as coisas. Depois de perdermos mais de meia hora a tentar descobrir como se desmontava a arma, decidimos secar todas as peças da arma, removendo completamente o óleo. Isto melhorou bastante a performance da Beretta, mas não resolveu completamente o problema. Tivemos que voltar a desmontar a arma e lubrificar ligeiramente as zonas de fricção da arma, ou seja, os carris onde de desloca o obturador e o tubo onde atua a mola de recuperação. Depois disto a Beretta não voltou a encravar.

A Smith & Wesson M&P também se fartou de encravar, sempre do mesmo modo que no dia anterior. O casquilho vazio extraia, a munição nova alimentava, mas o gatilho não funcionava nem percutia a escorva. Não chegamos a perceber se isto se devia as alterações que o Andy tinha feito ao mecanismo do gatilho ou se era algo que eu provocava com a forma como segurava na arma. Fiquei bastante desapontado com estes constantes encravamentos. Onde é que anda a Glock 18 dos outros anos?

Agora que já disse mal de tudo e já reclamei até me doerem as pontas dos dedos, já me sinto mais aliviado. Até já consigo dizer bem do coldre Serpa que tanto me tinha desagradado no dia anterior. Pois é… quando fiz a pausa para almoço dou por mim a pensar que o Serpa ainda não me tinha atrapalhado os movimentos uma única vez. Na verdade nem me tinha apercebido que estava a usar um coldre com retenção. Estou a começar a ficar fã.




Ao início da tarde, já sem munições de calibre 12 e quase sem munições de pistola, clamo  por clemência. Estou tão exausto que não consigo fazer mais nenhuma pista. Opto por disparar o AR-15 em rajada, para descontrair a para relembrar o curso de Select Fire do ano passado.

Com o Andy a filmar, ponho-me em posição, com o seletor de tiro em posição Auto e tenho fazer umas “rajadas” de apenas um tiro para ver se consigo controlar o gatilho. Consigo o primeiro tiro, mas a arma encrava com uma dupla alimentação. Demoro um bocado até me aperceber do que estava a acontecer e ainda mais para resolver. O Andy continua a filmar e goza descaradamente. Demasiado tempo depois, o meu cérebro lá começa a trabalhar e lembro-me que tenho que retirar o carregador, inclinar a arma para o lado da janela de ejeção e puxar o manobrador várias vezes atrás. Depois de resolvido o encravamento, coloco um novo carregador na arma e uso novamente o manobrador para colocar uma munição na câmara. Claro que as coisas continuaram a correr mal e o carregador caiu da arma quando puxei o manobrador atrás. E tudo isto filmado… A minha melhor desculpa é que estava tão exausto que nem o cérebro tinha energia para funcionar.

Depois de várias rajadas controladas de 1, 2 e 3 tiros, despejei o último carregador numa única rajada. É um grande desperdício de munições mas extremamente divertido! Guardei ainda um carregador inteiro para fazer tiro a longa distância na pista.

Arrumámos tudo, apanhámos os casquilhos vazios do chão e partimos para a pista. Desta vez não perdemos tempo com as distâncias mais curtas. Fomos diretos para a zona dos 400 m. O Andy mediu 375 m com o telémetro. Comecei com a pistola. Com o máximo de concentração que consegui reunir disparo o primeiro tiro que acertou ligeiramente abaixo do alvo. Faço correção e acerto as miras pelo cimo da linha de vegetação, uns bons 10 m acima do alvo. Disparo e… hit grita o Andy. Eu não ouvi nada, claro. Ao chegar ao alvo, vemos a marca do tiro quase centrada em altura e um pouco para a direita. Nada mau. Isto já se aproxima das 400 jardas do Jerry Mickulek, mas quero tentar os 400 m. Pintamos o alvo e regressamos à pista.




Avançamos mais um pouco e o Andy mede 413 m. Por mim está bem. Desta vez aponto ligeiramente acima da linhas das árvores. Espremo  gatilho e… hit grita, de novo, o Andy. Não consigo acreditar. À primeira?! Metemo-nos na carrinha e vamos ver o alvo. Apesar do Andy garantir que tinha ouvido o barulho do impacto não se vê nada, nem neste nem nos alvos pequenos, ao lado. Quando já estávamos quase a desistir, o Andy reparou na marca que estava na base do suporte do alvo, junto ao chão, cerca de 10 cm abaixo do alvo própriamente dito e no extremo esquerdo do mesmo. Apesar de não ser um tiro excelente, consideramos o tiro como válido. Ainda por cima estava gravado em vídeo. Regressamos aos 413 m para fazer uma série de disparos com o AR-15.

Com o ego bastante inchado, deito-me no chão e começo a disparar. De cada vez que primo o gatilho ouço o Andy a dizer o seu famoso “no joy”. O meu ego volta a encolher e concentro-me cada vez mais no controlo da respiração e no espremer do gatilho, mas continuo a ouvir repetidamente, no joy, no joy… por mais ajustes que faça à altura da mira não consigo ouvir o ding no metal. Decidimos aproximar-nos do alvo para ver se conseguíamos perceber o que se estava a passar. Ao chegar ao alvo vimos várias marcas de impacto. Ao que parece o projétil de 55 gr, ao atingir este alvo, não faz barulho suficiente para se ouvir a 413 m. foda-se! Tanta frustração para nada. Ainda por cima não sei qual foi a elevação da mira que usei para os tiros certeiros… Pintamos o alvo e passamos à frente.

Passamos para os 500 m. Desta vez já não me enganam… Disparo 5 tiros e vamos ver o alvo. Consegui 2 tiros certeiros. Não é brilhante, mas aceito o resultado. Pintamos, novamente, o alvo e partimos para os 600 m. Como fiz disparos com várias elevações, continuo sem saber que elevação devo usar.




Nos 600 m volto a repetir a técnica usada nos 500. 5 tiros disparados com ligeiras variações na elevação. Desta vez consigo colocar apenas 1 tiro no alvo. Isto de disparar às cegas é bastante frustrante. Voltamos a pintar o alvo e avançamos na distância.

O Andy, que já está um bocado farto de andar para trás e para a frente, propõe irmos diretamente para o fim da pista, para os 770 m e gastar as 7 munições que me restam. Volto a repetir a técnica, desta vez sem resultados. Nem um único tiro no alvo. Se estava frustrado até aqui, imaginem terminar o dia sem acertar em nada…

Arrumamos as coisas e fazemo-nos ao caminho. O Andy diz que me dá o certificado do curso de Tactical Shotgun apesar de não ter feito o curso formal nem o respetivo exame. Ele diz que as competências que demonstrei durante o dia, nas várias pistas de 3 Gun, excedem o que é exigido no exame. Se ele acha que mereço o certificado, eu não vou protestar. Despedimo-nos à entrada do Trump com um “até para o ano”. Apesar de exausto,consegui não dormir no caminho, mas não sei como vou conseguir ter energia para sair para jantar e brincar com a Ameixinha Estragada.

Depois de um duche refrescante e de uma hora de brincadeira na praia consegui convencê-las a irmos jantar. As minhas pernas estavam mesmo a precisar de uma pausa para descanso. Não tenho memória nenhuma do jantar nem do regresso ao hotel. Apenas sei que consegui regressar ao hotel porque acordei no nosso quarto e na cama...


The end.

E lembrem-se, não se deixem apanhar...

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