segunda-feira, 16 de julho de 2012

Curso - Tactical Handgun Level 1





Estes são os meus apontamentos relativos ao curso Tactical Handgung Level 1 que tirei em Las Vegas em 2012. Trata-se daquilo que me ficou na memória referente a esses 2 dias.

Este texto está integrado no relato da viagem a Las Vegas. Quem já leu este relato não vai encontrar aqui informação adicional. Faço esta separação para facilitar a vida a quem gosta de tiro e de armas, mas não se interessa por viagens.






Dia 1 de 2 - 16-07-2012 - Curso Tactical Handgung Level 1

Levantei-me às 06:00h para me preparar para o grande dia. Tinha dormido mal devido à ansiedade. Tomei duche e improvisei um pequeno-almoço de iogurte, café e torradas. Despedi-me da Vaselina, que ficou a dormir e desci para o lobby onde me sentei à espera que me viessem buscar. Não fazia a mínima ideia como era a pessoa que me vinha buscar, só sabia que se chamava John Kern.

Estava eu confortavelmente sentado à espera de um gajo numa carrinha pick-up ou num jipe enorme quando um funcionário do hotel me perguntou o nome e me disse que estava alguém à minha espera. No lugar de um gajo numa carrinha enorme estava uma gaja loura num carro minúsculo. Vim a descobrir que era a mulher do meu instrutor.

Apresentámo-nos, entrei no carro e, ainda antes de seguirmos viagem pediu-me os $1000 que ainda faltavam pagar. No carro minúsculo, estava também a filha de 7 anos do casal que dormiu a viagem toda e uma dobermann enorme, de nome Uzi que passou a viagem inteira a lamber-me e a meter-me o nariz molhado nas orelhas. Pelo caminho ainda nos perdemos uma vez e parámos duas para comprar café para o John. A Mirelle é uma condutora insegura.

A carreira de tiro onde o curso ia decorrer fica mesmo no limite exterior de Las Vegas. Para chegar ao “Desert Sportmans Rifle Club”, basta seguir a Charleston Boulevard até ao fim da cidade. Pouco depois de terminarem as casas começa a carreira de tiro ao ar livre. Como visitante a Mirelle pagou $5 pela minha entrada e procuramos o sítio onde o John nos esperava. Ele escolheu a carreira mais remota de todo o complexo (Assinalada na imagem com uma seta). Neste clube não se podem dar aulas e foi for causa disto que ficamos tão afastados. Fui instruído para dizer que éramos amigos se alguém me perguntasse o que se passava ali.

Ao chegar à carreira 10, conheci o John Kern que já tinha preparado tudo para dar inicio à aula. Já tinha os alvos rotativos instalados, tinha uma tenda para dar sombra, uma geleira com snacks, águas e, claro, as armas e acessórios. A Mirelle saiu pouco tempo depois de me deixar. Depois das apresentações, o John colocou-me um cinto tático com um porta carregadores e o coldre. Apesar de eu ter escolhido uma Glock ele recomendou que experimentasse a Springfield XD-9 Service Model, com cano de 4'', em 9mm e eu aceitei. Colocou-me a arma no coldre imediatamente a seguir. Deu-me também uns protetores auriculares ativos, que têm um microfone que amplifica o som da voz e bloqueia as frequências dos tiros. Uma obra de engenharia e eletrónica magnífica. Tenho que arranjar uns destes.





Sentámo-nos um pouco à sombra enquanto eu enchia os 4 carregadores de 16 munições e ele fazia a introdução ao curso e falava das 4 regras básicas de segurança que eu já conhecia mas pela ordem errada. Esta é a ordem certa:


1- Trata todas as armas como se estivessem carregadas.

2- Nunca apontes a arma a nada que não estejas disposto a destruir.

3- Mantém o dedo fora do gatilho até estares pronto a disparar.

4- Conhece o teu alvo e o que se encontra atrás dele.


Enquanto falávamos descontraidamente, disse-lhe que o meu olho diretor era o esquerdo,  que eu era destro e que para ver as miras como deve ser tinha que rodar ligeiramente a cabeça. Mal acabo de lhe dizer isto, o John corrige-me a posição. Sugere que ao invés de rodar a cabeça incline a arma para a esquerda, para adquirir as miras mais rapidamente.

Ainda comigo confortavelmente sentado, explicou-me a posição de pronto, em que o atirador tem os braços esticados e a arma a apontar para o chão num ângulo de 45º.


Explicou os 6 passos para tirar a arma do coldre e disparar sobre uma ameaça:

1- Bater com a mão esquerda no peito enquanto que a direita agarra a empunhadura da arma. Estes movimentos devem ser o mais rápidos possível. Bate-se com a mão esquerda no peito para garantir que esta nunca se atravessa à frente do cano.

2- Sem mexer a mão esquerda, puxar a arma para cima na vertical.

3- Sem mexer a mão esquerda, rodar o pulso direito para que o cano aponte para o alvo. Caso a arma tenha segurança manual, é neste passo que esta deve ser desativada.

4- Juntar as mãos.

5- Trazer a arma à altura da vista.

6- Esticar completamente os braços.


A arma pode ser disparada em qualquer altura desde o ponto 3 inclusive até ao 6. Para voltar a colocar a arma do coldre efetuam-se os mesmos passos por ordem inversa, tendo o cuidado de, antes de colocar a arma no coldre, afastar bem o dedo indicador do gatilho e da empunhadura da arma.


Explicou também os procedimentos para carregar e descarregar a arma. Para carregar executam-se os seguintes passos:


1- Tirar a arma do coldre e levá-la à posição de pronto.

2- Aproximar a arma do peito e inspecionar a câmara visualmente. Deve estar vazia.

3- Colocar um dedo no orifício do carregador para garantir que este não se encontra lá.

4- Inserir um carregador no orifício.

5- Agarrar a corrediça com a palma da mão esquerda, puxando-a violentamente para trás até que a mão bata no nosso ombro.

6- Inspecionar visualmente a câmara garantindo que lá se encontra uma munição.

7- Inspecionar táctil e visualmente o carregador para garantir que está corretamente instalado.

8- Colocar a arma no coldre.




Para descarregar a arma executam-se os seguintes passos:


1- Tirar a arma do coldre e levá-la à posição de pronto.

2- Aproximar a arma do peito e inspecionar a câmara visualmente. Deve conter uma munição.

3- Verificar que o carregador se encontra instalado.

4- Retirar o carregador.

5- Agarrar a corrediça com a palma da mão esquerda, puxando-a violentamente para trás até que a mão bata no nosso ombro. Isto deverá ejetar a munição da câmara.

6- Inspecionar visualmente a câmara garantindo que está vazia.

7- Colocar um dedo no orifício do carregador garantindo que este não se encontra no local.

8- Colocar a arma no coldre.


Apesar de ter passado pouco mais de meia hora, eu já estava a desesperar. Então e quando é que começamos a atirar?



Disse-lhe que a policia e GNR em Portugal usavam as armas com a segurança manual desativada e sem munição na câmara. Nem imaginam o que o gajo gozou com isto. Durante todos os dias do curso, sempre que se lembrava, o John gozava com a forma como a polícia portuguesa usa as armas.

Aproveitou para falar nos 3 tipos de problema ou avaria que podem acontecer durante a utilização de armas de fogo:

Problema número 1. Falha a alimentar. Ao apertar o gatilho não acontece nada porque não há munição na câmara. Aquilo que a policia e GNR chamam a forma normal de transportar uma arma, os americanos chamam-lhe o problema número 1... Lindo... Resolve-se batendo no carregador para garantir que está bem instalado, puxando a corrediça atrás e inclinando ligeiramente a arma para a direita.

Problema número 2. Falha a ejetar. A arma não conseguiu ejetar um casquilho vazio e este encontra-se preso entre a corrediça e a câmara. Resolve-se puxando a corrediça atrás e inclinado a arma ligeiramente para a direita para facilitar a ejeção do casquilho vazio.

Problema número 3. Dupla alimentação. Este problema é causado pelo utilizador na maior parte dos casos. Está uma munição carregada na câmara e está outra a meio caminho entre o carregador e a câmara. Este é o problema mais complexo de resolver. Na maior parte das armas modernas, de plástico, resolve-se premindo o botão de retenção do carregador para o libertar para o chão e, ao mesmo tempo puxar a corrediça atrás repetidas vezes para ejetar a munição que se encontrava na câmara. Em seguida, coloca-se um carregador novo na arma e puxa-se novamente a corrediça atrás.

Depois desta dose de teoria, chegava finalmente a altura de dar os primeiros tiros. Dirigimo-nos à linha dos 3m onde o formador demonstrou os passos para tirar a arma do coldre e dar 2 tiros em seco. A seguir foi a minha vez de praticar repetidas vezes. Depois de vários disparos em seco tive ordem para carregar a arma e, ao sinal do formador dar 2 tiros no tronco ou massa central do alvo.



A seguir a um confronto armado é normal o atirador ficar com visão de túnel, ou seja sem visão periférica. O John conta a história de dois polícias que responderam a uma atirador num hospital e tiveram que disparar sobre esse atirador. Posteriormente, durante uma sessão de acompanhamento psicológico um dos polícias disse que só se lembrava de ver  latas de cerveja a rodopiar pelo ar. Depois de algum trabalho de investigação, chegaram à conclusão que o que o polícia viu  a rodopiar pelo ar foram os casquilhos vazios que eram ejetados da arma do seu parceiro. Isto deve-se à visão de túnel. Para quebrar a visão de túnel, após os disparos, deve-se olhar 180º para o lado direito e 180º para o lado esquerdo, verificando a existência de ameaças e quebrando a visão de túnel. A partir daqui, no final de cada exercício, antes de colocar a arma no coldre, na posição de pronto, olho 180º para cada lado.

As estatísticas dos confrontos armados deram origem à regra dos 333. Isto quer dizer que a maioria dos confrontos armados se dão a uma distância de 3 metros, são disparados 3 tiros e têm a duração de 3 segundos. Por causa desta regra, damos sempre, pelo menos 2 tiros (o termo certo é pares controlados) no alvo e, a maior parte do treino é feita a 3 metros do alvo.

Em seguida o instrutor deu ordem para recuar para a linha dos 5 metros e dar mais 2 tiros no alvo. Este processo foi repetido para as linhas dos 7, 10, 15 e 25. A 25 m, o John diz que a técnica mais adequada pode não ser a de disparar sobre o alvo, mas sim a técnica RLH, que quer dizer “Run Like Hell”. Traduzo isto por CCC ou seja, “Correr Comó Caralho”. Depois de avaliar a forma como eu disparava o John fez algumas correções e introduziu um novo elemento no treino, a pausa respiratória.

A pausa respiratória é o momento em que os pulmões estão vazios e que antecede a inspiração. É neste momento que os disparos vem ser feita. Para garantir que os disparos saem sempre na pausa respiratória, num caso de defesa pessoal, deve-se sempre gritar uma ordem ao atacante. Ex: Larga a arma! Pára! Ou algo do género. Esta ordem tem como objetivos, dar uma hipótese ao atacante para desistir das suas intenções, intimidá-lo e atingir a pausa respiratória. Todos os exercícios daqui para a frente começaram com uma ordem gritada para o alvo. Repeti as sequências de 2 tiros nas distâncias referidas acima, com muito melhores resultados devido à pausa respiratória. Dou por mim a gostar da Springfield XD.


A meio do exercício fico sem munições e tenho que fazer um recarregamento de emergência. Os recarregamentos de emergência fazem-se deixando cair o carregador vazio para o chão agarrar num dos que se encontra na bolsa porta carregadores, tatear com o indicador para ter a certeza que este carregador contem munições,  inseri-lo num único movimento no orifício apropriado e levar a corrediça à frente. Os carregadores vazios são inúteis e, como tal, devem ficar no chão, não devendo nunca ser colocados nas bolsas porta carregadores ou nos bolsos.

Para além dos recarregamentos de emergência que ocorrem quando a arma fica sem munições e a corrediça fica trancada atrás, existem os recarregamentos táticos Estes fazem-se numa pausa no combate, quando estamos atrás de cobertura. Um recarregamento tático envolve os seguintes passos:

1- Com a arma na posição de pronto, tocar com a mão esquerda na bolsa porta carregadores para ver se esta tem carregadores cheios.

2- Libertar o carregador que se encontra na arma e guarda-lo num bolso. Este carregador ainda poderá ser útil mais tarde.

3- Retirar um carregador cheio da bolsa porta carregadores e coloca-lo na arma.


Após praticar os recarregamentos algumas vezes apercebo-me que o botão de retenção do carregador na XD é difícil de usar para mim. É duro e está retraído, tornando-se difícil de aceder. Os carregadores recusam-se a cair. Tenho que usar a mão esquerda para puxar o carregador e o atirar para o chão. De todo o tempo que usei a arma foi a única critica que tive para lhe apontar.


Fizemos uma pausa para comer os snacks que a mulher do John tinha preparado para nós. Enquanto comíamos o John explicou-me que os confrontos se regem pelo ciclo OODA (Observe; Orient; Decide; Act), que se pode traduzir por Observar, Orientar, Decidir e Agir. Ambos os oponentes passam continuamente por todas as fases deste ciclo. Se um atacante tem uma arma apontada para nós, já passou as fases da observação e da orientação e, neste momento tem a vantagem sobre nós. Se dermos um simples passo para um dos lados, forçamos o atacante a reiniciar o ciclo ganhando segundos vitais. A partir daqui todos os exercícios começam com um passo para um dos lados.

Repetimos mais uma sequência de 2 tiros para a massa central dando um passo para o lado no início. Sempre que se efetua um recarregamento de emergência também se deve dar um passo ao lado para dificultar a tarefa do adversário. Lembrem-se, é mais difícil acertar num alvo em movimento do que num alvo parado.

Treinamos a resolução de problemas, onde voltei a ter dificuldades com o botão de libertação do carregador da XD na resolução do problema nº3. Os dois outros problemas resolvem-se fácil e rapidamente. O coldre de Kydex da XD tem arestas vivas que me cortam o dedo médio em vários sítios ao retirar a arma do coldre. Depois de um penso rápido, estou como novo. Por esta altura começa a chover e tivemos que fazer uma pausa de quase 2 minutos. Toda a gente em Vegas está surpreendida pelo clima. Aqui só costuma chover e Janeiro e, este ano, em pleno Julho, quando deviam estar cerca de 45 ºC, chove e estão 36 ºC. Eu agradeço a “baixa” temperatura. Apesar disto já tenho um escaldão no pescoço. Pus protetor solar na cara e nos braços, mas esqueci-me do pescoço. Sou oficialmente um “red neck”!




O instrutor está muito surpreendido com a quantidade de teoria que eu sei e com a velocidade com que eu a aplico na prática. O meu ego não podia estar maior. Vamos passar ao tiro de precisão. O objetivo é dar 5 tiros num único buraco esfarrapado, num alvo do tamanho de uma moeda de1€, a 3 metros. O gajo exemplifica fazendo-o parecer a coisa mais simples do mundo. Quando chega a minha vez só sai merda. Lá se vai o meu ego inchado. Foda-se, estava tudo a correr tão bem...

O que se passou foi que não estava a fazer bem o reset ao gatilho e não me estava a concentrar apenas na mira da frente. O meu olhar estava a saltar entre o alvo e a mira da frente. Nova tentativa e nova cagada de grandes dimensões. Pausa para uns tiros em seco. O instrutor corrige a posição do meu dedo no gatilho, que lhe deve tocar apenas com a ponta e eu estava a usar o meio do dedo. Nova série de 5 disparos, desta vez menos maus. E isto que estava a correr tão bem até ao tiro de procissão.

Mais uma tentativa, desta vez com o instrutor a gritar-me ordens aos ouvidos enquanto eu disparava os 5 tiros. Desta vez fiz o tal buraco esfarrapado. Nem imaginam o orgulho que senti em mim. A seguir, novo buraco esfarrapado, desta vez a 5m. O meu ego volta a atingir proporções gigantescas.

Estava cansado do esforço. Estava na altura do almoço. O John deixa-me a guardar a barraca, de arma carregada à cintura e vai buscar o almoço. Regressa com 2 sandes de frango do Burger King. Disse-me que o almoço ficava por conta dele. Comemo-las enquanto falávamos de armas e dos meus gostos pessoais. Prometeu-me que, no dia seguinte, me traria uma caçadeira e duas carabinas para eu experimentar.

Desde cedo, percebi que este não era o típico americano básico. Conhece vários países da Europa, foi varias vezes a Itália para praticar o seu italiano e, acima de tudo, não pensa como a maioria dos americanos em relação às armas. A arma que usa para se defender no dia a dia não é uma qualquer 1911 em calibre .45 ACP ou uma Glock em calibre .40 S&W, mas sim uma FN FiveSeven, no calibre 5,7 x 28 mm, que a maioria dos americanos despreza por ter um diâmetro muito pequeno. O John usa a FiveSeven no dia a dia para se defender mas, nos 2 dias do curso, usou uma Glock 23, completamente customizada, no calibre .40 S&W, para ser mais parecida com a arma que eu estava usar.

Depois de almoço, perguntou-me se queria experimentar a Glock 23 dele. Pergunta parva. Claro que sim! Mudei para o coldre da Glock que iria usar até final do curso. Repetimos os exercícios da manhã que serviram como aquecimento para a tarde. A grande surpresa para mim foi o facto de o recuo ser quase igual ao da XD 9 e da arma ser extremamente fácil de controlar. A minha expectativa seria de que a sua utilização fosse como a da Glock 32, no calibre .357 SIG, que é uma besta, tanto ao nível do coice como do levantamento do cano. Quando falei nisto ao John ele disse-me que eu tinha razão, e que no caso da arma dele isso não acontecia devido às modificações que ele fez.




Depois de terminados os exercícios de aquecimento, mudei para a Glock 34, em 9 mm Parabellum que é muito mais barato que o .40 S&W. A Glock 34  é o modelo de competição da Glock no calibre 9 mm Parabellum. Tem um cano de 5,32'' e leva carregadores com capacidade para 17 munições. Apesar das suas maiores dimensões consegui usar o coldre da Glock 23 que já tinha posto porque a parte de baixo deste é aberta deixando que a frente da arma o ultrapasse. As suas dimensões são  maiores que as da Glock 17 que é considerada por muitos como exageradamente grande. Pensava que ia ter dificuldades a tirá-la do coldre mas, como disse o John - “bull shit!”.

Chegava agora a altura de melhorar a minha velocidade. Até agora estava a ter resultados bons ao nível da precisão, mas estava a ser muito lento a efetuar os disparos. Estava na altura de começar a rodar os alvos. A distâncias até 10 m, não tive dificuldades com os pares controlados, quando passamos para as sequencias de 3 e 4 tiros, já comecei a lutar contra o tempo. Muitas vezes não conseguia dar o último tiro no alvo antes que este desaparecesse.

Seguindo as indicações do John, fui evoluindo até conseguir tirar a arma do coldre e disparar 4 tiros em 1,82 s, todos acertando na massa centrar do alvo a 7 m. Nem imaginam o quanto inchado estava o meu ego quando o gajo me diz o tempo. Claro que muito do mérito vai para a Glock 34, por causa da grande distância entre miras que facilita a precisão do tiro. Duvido que tivesse conseguido os mesmos resultados com a XD ou com a Glock 23.

Por esta altura, o John fala da posição de disparo. Ele diz que uma boa posição de disparo (boa para cada individuo em particular), é a coisa mais importante para garantir bons resultados de forma consistente. Para me provar isto ele diz que consegue dar 6 tiros na massa central de um alvo com os olhos fechados, a 3 m depois de dar um passo para o lado. Nem imaginam o esforço que fiz para não me mandar para o chão a rir. Mordi o lábio inferior para tentar manter cara séria enquanto ele se preparava para demonstrar. À medida que ele ia fazendo a demonstração a minha expressão ia-se alterando de cara de gozo para pura estupefação. Então não é que aquele animal conseguiu por todos os 6 tiros no alvo?! Este gajo é o  meu herói! Esqueçam o Rambo e o Chuck Norris!

Ainda mal refeito do choque e com a maior cara parvo que alguma vez fiz, pedi-lhe para experimentar. Fui para a linha dos 3 m, virado para o alvo. Quando o gajo deu sinal, fechei os olhos, dei um passo para o lado, tirei a arma do coldre, apontei para o sitio onde pensava que o alvo estava e disparei 6 vezes. Abro os olhos e novamente cara de parvo. Então não é que acertei 5 dos 6 tiros no alvo?! E o que falhou o tronco do oponente ficou a apenas 1 cm do pescoço. Afinal, eu sou o meu próprio herói. Se o meu ego já tinha atingido proporções gigantescas, imaginem depois disto... Nem sei como consegui entrar no hotel de tão inchado que estava.




Terminámos o dia com head shots ou tiros para a cabeça. Os tiros para a cabeça fazem-se sempre que o par controlado no peito não detém o atacante, seja isto porque o atacante está a usar um colete à prova de bala ou porque está sob a influencia de drogas. A zona ideal para os tiros na cabeça tem o formato de um T a começar nos olhos e a terminar na boca. Deve-se evitar acertar na testa porque os ossos aí são muito duros e por vezes deflectem o projétil. O John contou a história de um polícia que levou um tiro de calibre .380 ACP, na testa e, o projétil subiu entre a pele e o crânio saindo pela parte de trás do pescoço. O polícia sentiu dor, mas não percebeu que tinha levado um tiro. Eu já tinha ouvido uma história parecida mas onde a pessoa foi alvejada com um tiro de .25 ACP (sim o famoso 6,35 mm que se usa em Portugal para autodefesa), e o projétil contornou o crânio pela lateral e saiu pela traseira.

Efetuámos várias séries de pares controlados a 3, 5 e 7 m, seguidos de um tiro na cabeça caso o instrutor desse ordem para isso. Os tiros para a cabeça são sempre tiros lentos, cuidadosamente apontados, garantindo a máxima precisão possível. Segundo o instrutor um único tiro na cabeça é suficiente para causar um blue screen ao atacante e desligá-lo completamente. Nunca se deve dar mais que um tiro na cabeça. Este tipo de tiros não deve ser tentado a diferenças superiores a 7 m devido ao grau de dificuldade inerente. Por esta altura, acabam-se as 400 munições que o John tinha levado naquele dia. Se a juntar a estas 400 contarmos as cerca de 40 que disparei com a Glock 23, parece-me uma boa soma.

E, desta forma grandiosa termina um dos melhores dias da minha vida. Não me lembro de alguma vez me ter divertido tanto com as calças vestidas. O instrutor disse que era melhor levar o cinto com o coldre e o porta carregadores para o hotel para não perdermos tanto tempo com isto no dia seguinte. Ajudei o John a desmontar as coisas e a guardá-las na carrinha e levou-me ao hotel na sua enorme Toyota Tundra com motor V8 de 5,7 litros a gasolina. Ah leão!

Pelo caminho, o John vai sugerindo coisas para fazer e sítios para jantar. Perdemo-nos 2 vezes no caminho para o hotel. Até custo a entrar no hotel de tão inchado que está o meu ego. 





Dia 2 de 2 - 17-07-2012 - Curso Tactical Handgung Level 1

Voltei a madrugar para estar pronto a horas. Já estava acordado quando o despertador tocou, devido à excitação. Parecia uma criança na véspera de Natal. Tomei duche e comi o pequeno-almoço à pressa. Deixei a Vaselina ainda meio enjoada, na cama e desci.

Desta vez consegui chegar à entrada do hotel uns minutos antes da Mirelle. Entrei no carro e partimos, desta vez sem enganos no caminho e sem paragens para café. Pelo caminho ela ia perguntando tudo e mais alguma coisa sobre mim e a Vaselina. Deixou-me novamente na carreira de tiro nº 10 e despediu-se.

O John já tinha tudo preparado. Colocou-me a Glock 34 no coldre e repetimos alguns dos exercícios do dia anterior para aquecer. Depois de terminado o aquecimento chegava a altura de treinar sacar a arma de um coldre escondido. Vesti um colete para esconder o coldre e a arma. Há duas formas de esconder a arma. Uma é usar um colete ou casaco aberto. A outra é usar um casaco fechado ou uma T-shirt. O segundo método é o mais eficaz para esconder a arma, mas o mais lento para a sacar. O coldre deve ficar sempre na lateral, tal como fica se não estivesse escondido, ou seja como a polícia ou a GNR o usam.

Praticámos primeiro o método mais fácil, de casaco aberto. Os passos são quase iguais aos usados para retirar a arma de um coldre exposto. Apenas muda o primeiro passo para retirar a arma do coldre e o último para voltara colocar a arma no coldre. Ao efetuar o primeiro passo, a mão esquerda bate contra o peito o mais rapidamente possível, enquanto que o polegar da mão direita afasta violentamente o casaco para trás e agarra a empunhadura da arma. O movimento de afastar o casaco para trás é facilitado se o bolso direito tiver algum peso para criar inércia. No meu caso usei uma pequena pedra. Ao voltar a colocar a arma no coldre, no último passo, a mão esquerda não fica parada no peito, mas segura no casaco, bem alto, enquanto que a direita volta a colocar a arma no coldre. Repetimos este exercício várias vezes a várias distâncias, disparando sempre um par controlado.





No segundo método, com a T-shirt a cobrir o coldre, variam apenas o primeiro passo para retirar a arma do coldre e o último para a recolocar lá. No primeiro passo, a mão esquerda não fica no peito. Ambas as mão agarram a parte de baixo da T-shirt, uma de cada lado do coldre e a puxam exageradamente para cima. A mão esquerda mantém-na em cima enquanto que a mão direita agarra a empunhadura da arma. No último passo é muito parecido com o método anterior. A mão esquerda puxa e mantém a T-shirt em cima enquanto que a mão direita coloca a arma no coldre. Repetimos este exercício várias vezes a várias distâncias, disparando sempre um par controlado.

Antes de passar à parte mais divertida de todas, fizemos uma pausa para comer uns snacks que a Mirelle tinha preparado. Desta vez ainda se tinha esmerado mais na quantidade e variedade. Conversámos um pouco sobre economia e política.

Estava na altura de um dos momentos altos do dia, disparar pares controlados contra múltiplos alvos. Primeiro em sequência e depois segundo a ordem e quantidade ditadas pelo John. Por vezes, enquanto eu estava na posição de pronto a sondar a área, o John gritava “cabeça, alvo número X”, o que acrescentava algum drama à situação. Para complicar um pouco mais, a certa altura os alvos começaram a rodar. Treinámos isto a várias distâncias, sendo bastante difícil a 25 m. Parecia o Rambo, mas sem os problemas de fala.

Depois de toda esta excitação (acho que premeditadamente) o John mandou-me fazer novamente tiro de precisão num alvo do tamanho de uma moeda de 1€, o tal buraco esfarrapado, a 5m. Claro que, devido à pulsação elevada e à excitação do exercício anterior, só fiz merda. Uma quantidade indescritível dela. Depois de me acalmar e com o John novamente a corrigir a posição do meu dedo no gatilho e a gritar-me ordens aos ouvidos, consegui fazer 2 buracos esfarrapados a 5 m. Nada mau, mas um esforço tremendo para um nabo como eu.





Passámos para a linha dos 7 m e fizemos novo exercício de precisão. Desta vez, um único tiro numa circunferência com as dimensões aproximadas das da boca de um copo de água de plástico, daquelas que se encontram nos escritórios, junto às fontes de água. O alvo tinha 4 bolas numeradas e o John gritava o número da bola que queria que eu alvejasse. Não falhei nenhuma.

No exercício seguinte a minha pulsação voltou a subir bastante. Trata-se de disparar sobre um adversário à distância do mau hálito, ou seja à distância de um braço esticado. Se o atacante está a esta distância, não podemos retirar a arma do coldre e esticar os braços pois o atacante desarmar-nos-ia. Nesta situação, os disparos são efetuados do passo nº 3, ou seja, com a mão direita à altura do peito, com o braço retraído e a arma ao lado do tronco e protegida por este. Depois de efetuar os disparos, na posição de pronto, deve-se inspecionar visualmente a boca do cano para verificar que não tem obstruções. Deve-se ter extremo cuidado para não virar o cano para nenhum sitio em que coloque em perigo o utilizador ou outras pessoas que estejam na zona. Para pessoas baixas ou para casos em que se dispara contra atacantes altos, no passo nº 3, ao rodar a arma para o alvo deve-se inclinar o tronco para trás, o que vai fazer com que os disparos atinjam o alvo mais acima.

Enquanto falamos descontraidamente o gajo atira-me um cartucho vazio que eu apanho. Faz isto para exemplificar que uma coisa tão básica pode servir como distração para ganhar tempo ou distância. Treinámos tocar com a ponta dos dedos no alvo para o distrair, dar um passo atrás sacar a arma e disparar dois tiros.

Regressamos aos tiros para a cabeça, desta vez em movimento. Treinámos disparar um tiro para a cabeça enquanto falamos com o alvo para o distrair e andamos para a frente para encurtar a distância e aumentar as probabilidades de acertar. Treinámos também disparar um par controlado enquanto recuamos para nos afastar de um atacante.

Tal como no dia anterior, eu estava tão excitado que nem me lembrava da comida. O John, já completamente esfomeado obriga-me a parar e vai buscar comida. Volto a ficar de guarda ao forte enquanto ele vai buscar mais umas sandes de frango. A Vaselina diz que já vomitou a casa de banho do quarto de uma ponta à outra, mas que está estável e não precisa de nada.

Depois de almoço fizemos mais uma sessão de aquecimento, repetindo alguns dos exercícios anteriores mas, acrescentado um novo elemento para complicar e causar stress. Desta vez os alvos tinham, ao lado, imagens de transeuntes inocentes e era fundamental apontar mais cautelosamente para não atingir pessoas inocentes. O instrutor explica que cada bala tem agarrado a ela um advogado e é importantíssimo garantir que cada bala acerta no alvo pretendido. Demorei muito mais tempo a apontar mas, após completar todos os exercícios, não acertei em nenhum transeunte inocente.

Chegamos agora à parte dos reféns. Neste exercício, temos que neutralizar os 2 atacantes que se escondem atrás de um refém. Para complicar as coisas,  o John pergunta-me qual o nome da minha mulher e escreve-o no corpo da refém. Para adicionar  mais pressão ainda me diz que eu tenho duas hipóteses; ou levo eu o alvo à Vaselina ou ele lho envia por correio. O objetivo é disparar 3 tiros na cabeça de cada um dos agressores sem atingir a refém. Disparo a 5 m e consigo acertar todos os tiros no atacante da esquerda. Com o suor a escorrer-me pela cara e as mãos trémulas disparo os 3 tiros sobre o atacante da direita. Todos no alvo! Que alívio! Era eu que ia mostrar o alvo à Vaselina, de peito inchado com orgulho! Faço mais um alvo destes sem nomes e a 7m. Dos 6 tiros disparados apenas um fica fora do T recomendado. Todos os outros ficam na zona ideal. Lá vai o meu ego outra vez...





Ficam apenas a faltar as reações. Este exercício serve para nos preparar para reagir a atacantes que não se encontram na nossa linha de vista direta. Isto quer dizer que os atacantes se encontram à nossa direita (no meu caso, do lado da arma), à nossa esquerda (no meu caso, do lado de suporte) ou atrás de nós. As reações partem do princípio que estamos a reagir a alguém que chamou a nossa atenção de alguma forma. Antes de efetuar o primeiro passo para retirar a arma do coldre, o nosso pescoço já está virado para o agressor. O primeiro passo, para retirar a arma do coldre varia ligeiramente. A mão esquerda bate contra o peito, o pé que que encontra mais próximo do alvo roda para ficar a apontar na direção do atacante e a mão direita agarra a empunhadura da arma. No segundo passo, o pé que está mais afastado do atacante dá um passo para ficar paralelo ao outro pé e a arma sai do coldre na vertical. Todos os outros passos executam-se normalmente. Quando respondemos a uma ameaça que se encontra atrás, devemos sempre rodar para o lado oposto ao braço que tira a arma do coldre para proteger a arma. No meu caso, que sou destro, devo rodar para o lado esquerdo ou no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio. Repetimos várias vezes estes exercícios.

Terminada a matéria, chegava agora a altura do teste. O instrutor disse-me que precisava de 46 munições. Como tinha 17 x 4, disse-lhe que estava pronto. As regras eram simples. Começava com 230 pontos. Se a  ordem fosse para atirar à massa central do alvo devia colocar todos os tiros nas zonas críticas do alvo. Caso desse tiros superficiais no alvo perderia 3 pontos, caso falhasse completamente o alvo perderia 5 pontos. As mesmas regras se aplicariam à cabeça. Por cada vez que ficasse sem munições perderia 5 pontos. Por cada vez que deixasse um carregador, com munições, cair no chão perderia 5 pontos.

Durante todo o curso, o instrutor sempre se fartou de gabar os meus dotes, dizendo que eu era muito acima da média. Apesar de eu achar que aquilo era tanga o meu ego foi crescendo. De repente, quase como se o objetivo fosse esmagar completamente o meu ego, o instrutor informa-me que costuma fazer o teste com os alvos a rodar, mas que, no meu caso, ia fazer o teste com os alvos estáticos. Por mais que insistisse não consegui que me fizesse o teste com o grau de exigência que ele considera normal. Terminei o teste com 227 pontos, perdendo apenas 3 para um tiro na cabeça que ficou fora da zona ideal, mas derrotado pelo facto de não o ter feito com o grau de dificuldade máximo. Ao longo do curso, por 4 vezes instalei incorretamente o carregador na arma, deixando-o cair após o primeiro disparo ou fazendo com que a arma não alimentasse corretamente. Felizmente que, durante o teste, isto não aconteceu. Outra coisa que também não aconteceu foi eu esquecer-me de fazer os recarregamentos táticos ou deixar cair o carregador cheio de munições. Estive “on fire”.

Terminado o teste, estava na hora de começar a experimentar todos os brinquedos que o John me tinha trazido. Começámos pela FN FiveSeven que ele usa para autodefesa. O botão de retenção do carregador não estava a funcionar bem e havia o perigo de a mola se perder se eu o usasse. Tive bastante cuidado para não o usar.

Todas as armas pessoais do John têm uma lanterna. A FiveSeven não é exceção. O John coloca-me o coldre feito à medida para a FiveSeven, explica-me como é que se deve tirar a arma do coldre e fazemos uns exercícios. A FiveSeven, tem uma segurança manual que se ativa e desativa com o dedo indicador. Todos os passos para a retirar do coldre são iguais aos das Glock exceto o passo nº 3, no qual se roda a arma para o alvo e, ao mesmo tempo, se desativa a segurança. Ao colocar a arma no coldre deve-se ativar a segurança, invertendo este passo.

O que mais me impressionou na FiveSeven foram as suas enormes dimensões. A arma é ainda maior que a Glock 34 que eu tinha usado na maior parte do curso! Outra das coisas que me impressionou foi a facilidade com que se atinge o alvo. O coice é parecido ao de uma Glock em 9mm, mas o cano praticamente não levanta após cada disparo, facilitando imenso os tiros seguintes. Não gostei do facto de ter segurança manual. Num dos exercícios, sob stress, esqueci-me de desativar a segurança manual e a arma não disparou. Numa situação de vida ou de morte aquilo poderia ter-me custado a vida. Em resumo, adorei todos os 20 tiros que disparei com esta arma. Foi um dos pontos altos da viagem!





Agora chega a vez da Beretta Cx4 Storm, uma carabina que dispara o calibre 9 mm Parabellum e usa os carregadores da 92 FS. Tal como todas as armas do John, esta também tem uma lanterna tática. O gajo explica-me os procedimentos básicos para operar a arma em segurança e eu encho um carregador de 15 munições e outro de 30 e comecei a fazer barulho. É uma arma muito ergonómica e fácil de usar. É quase tão fácil conseguir bons resultados com esta arma como com a minha Ruger 10 / 22. Tem umas miras de metal fabulosas. Depois de esvaziar os 45 tiros, estava na altura de passar à arma seguinte, a AR-15.

Eu e a Vaselina, já tínhamos disparado um M16 A1, no Vietname. Como tal achei que o AR-15, a versão semi-automática do M16 seria uma brincadeira de crianças. Logo que o John me explicou os procedimentos básicos de operação da arma, passei à ação. A arma tinha uma lanterna tática, uma mira de ponto vermelho e uma mira telescópica da marca EOTech que funcionava em conjunto com a mira de ponto vermelho da mesma marca.

O objetivo seria fazer um único buraco rasgado a 25 m com 5 tiros, usando ambas as miras. Deixem-me dizer, desde já que o objetivo não foi cumprido. Espalhei os 5 tiros à volta da moeda de 1€ mas nem um a atingiu. Que vergonha! Ainda bem que o gajo se esqueceu de trazer as munições de calibre 5,56 mm NATO que aquela arma utiliza e nós só conseguimos encontrar 5. Quantas mais munições houvesse, maior seria a minha humilhação. As minhas desculpas são duas, o peso enorme da arma, que afeta bastante um mariquinhas como eu, e o facto de a mira telescópica ampliar ainda mais os meus tremores e dificultar ainda mais a precisão no lugar de a facilitar. Enquanto me explicava o modo de operação da arma, o John disse algo inédito. Disse que, ao contrário do que muita gente diz, este (AR-15 e M16) não é o melhor sistema do mercado, apenas tem dois grandes pontos positivos. A facilidade de utilização e a facilidade com que se desmonta e se fazem as operações básicas de manutenção. Fiquei tão surpreendido com este comentário que nem sequer lhe consegui perguntar qual o sistema que ele prefere.

Apenas faltava mais um brinquedo, uma caçadeira de ação pump, uma Remington 870 Police Magnum. Dados os possíveis efeitos devastadores da caçadeira, o John decidiu arrumar o material todo e mudar para a carreira de tiro do lado antes de me passar a arma para as mãos. Depois de devidamente desequipado, ajudei-o a guardar tudo na pick-up e partimos para carreira de tiro imediatamente ao lado.

Aqui ele colocou um novo alvo num suporte e explicou-me como se operava a caçadeira. Aparafusado ao recetáculo está um porta cartuchos que tem 4 cartuchos de zagalote virados para cima e duas balas viradas para baixo. Esta separação faz-se para que, no escuro, seja fácil distinguir os 2 tipos de munição.

Como se trata de uma caçadeira tática, esta arma tem uma empunhadura do tipo pistola, muito parecida com a de um M16 ou AR-15 e miras como as de uma carabina, permitindo maior precisão. Com a ajuda destas fantásticas miras, coloquei 4 tiros rápidos de zagalote, num único buraco esfarrapado a 10 m. Agora vamos às balas. Duas na cabeça, dentro da zona ideal, também em sequência rápida. Sou mesmo bom! A seguir repito ambas as sequências com os mesmos resultados e o meu ego atinge proporções nunca vistas.






Em jeito de provocação pergunto-lhe porque é que ele prefere uma ação pump a uma caçadeira semi-automática (a grande maioria dos americanos prefere ações pump e nem sequer considera uma semi-automática para se defender). Para o espicaçar ainda mais digo-lhe que a minha Benelli Super 90, semi-automática, nunca me encravou, e eu já lá coloquei munições muito velhas e de má qualidade. Aqui chega outra surpresa. O John também prefere semi-automáticas. Acha que são tão fiáveis e mais eficazes que as pump. Ele só tem aquela arma porque é mais fácil dar as aulas com ela do que seria com uma semi-automática. Não tem a mais pequena intenção de se defender com aquela arma. Acha que a maioria dos americanos gosta de pumps porque gostam de se manter ocupados enquanto disparam a arma e gostam do barulho que a arma faz quando é engatilhada. Já sabia que este não era um americano típico mas, apesar disto, estou em choque com a resposta.

Desta forma épica termina o meu curso de Tactical Handgun Level I. O John diz-me que, quando quiser posso vir fazer o Tactical Handgun Level II ou um curso de carabina. Ele diz que também dá cursos de caçadeira, mas que acha que eu não me ia divertir num curso destes que ele considera demasiado complicado. Pessoalmente, ele não considera a caçadeira a arma ideal para autodefesa.

Antes de sairmos do complexo, e apesar de já passarem quase 2h da hora de fim do curso, ainda me faz a vista guiada à carreira de tiro, dando particular ênfase a uma zona exclusiva para uso de deficientes.

No caminho de regresso ao hotel vamos falando, principalmente dos desafios da paternidade e das suas alegrias também. Na sua qualidade de pai babado, diz que a filha foi a melhor coisa que já lhe aconteceu. O seu discurso ajudou-me bastante a deixar de estar aterrorizado com a ideia e a passar a ficar ansioso. Deixou-me no Trump e despediu-se calorosamente. Disse-me que no dia seguinte deixaria na receção o meu certificado de aproveitamento.












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