sábado, 8 de março de 2008

Equador e Galápagos


Factos:

Republica do Equador

Capital: Quito

Língua Oficial: Castelhano

Presidente (2008): Rafael Correa

População: 14,573,101

Moeda: Dollar

Fuso Horário: UTC -5h

Electricidade: 110v, 60Hz







Independência: 24-05-1822 (de Espanha).

Esperança média de vida: 75.3 anos

Alfabetização: 91%

Quando ir: Todo o ano! Se pensa visitar as Galápagos recomendo a época quente entre Dezembro e Maio devido à maior temperatura da água do mar e ao facto das aves se encontrarem mais activas.

Entre Maio e Dezembro chegam as correntes polares frias, o mau tempo e ondulação acentuada.

Clima: Tropical quente, húmido de Novembro a Março; chuvoso de Junho a Agosto.





Equador – 08-03-2008 a 19-03-2008

Confesso que o que nos levou ao Equador foi o avião da Iberia, mas o que motivou a nossa ida foi o desejo de visitar as Galápagos. Durante a nossa estadia percebemos que o Equador é muito mais que as Galápagos, é um pais com uma natureza e história riquíssimas, relativamente seguro e com uma população afável.

Como material fotográfico levámos uma Nikon D70 com objectiva Nikon 18-200mm, uma Canon S50 e uma Olympus u770. A Nikon e a Canon estiveram sempre ao nível esperado, já a Olympus se revelou uma decepção pois a qualidade das imagens revelou-se sempre medíocre, excepto nas fotos tiradas debaixo de água onde os resultados foram melhores do que os da Canon com o saco estanque. Apesar de já ter adquirido uma Nikon D300, decidi não a levar devido ao medo de roubo, medo esse que se revelou infundado.






Dia 0 -  08-03-2008 - Lisboa - Madrid - Quito
Despertar cedo para voo na TAP até Barajas. É lamentável que tenhamos que retroceder até Madrid para ir para o continente americano. Tanto o voo para Madrid a bordo de um MD88, quanto o de Barajas para Quito, a bordo de um Airbus A340, decorreram sem eventos dignos de nota, excluindo os 45 minutos de atraso em Madrid e alguma desorganização a  bordo, com trocas de lugares entre passageiros...

Aterrámos em Quito ao final da tarde, pelo que o representante da agência de viagens (Giovanni) nos conduziu directamente ao hotel. Pelo caminho, enquanto nos falava das coisas práticas da viagem, explicou-nos que o Equador adoptou o Dólar como moeda oficial pelas mesmas razões que Portugal adoptou o Euro, a desvalorização contínua da divisa. Tal como no caso português, a transição do Sucre, no ano 2000 para o Dólar, não foi pacífica e os preços de todos os artigos subiram em flecha, mas agora, passados 8 anos os benefícios para a economia são óbvios. Fico fascinado com as semelhanças entre Portugal e todos os países de 3º mundo que tenho visitado.

A Vaselina ficou emocionada ao ver as famílias a reencontrar os seus entes queridos que tinham chegado connosco no avião.



Fizemos check-in no hotel Dann Carlton (****), onde jantámos depois de devidamente instalados. Optámos por não sair devido à insegurança. Quito é uma cidade bastante mais segura que Lima, mas não é aconselhado andar pelas ruas a pé, à noite. Recomendo que todas as deslocações nocturnas sejam feitas de taxi. Em Quito (ao contrário de Lima) a grande maioria dos taxis são seguros. Por esta altura, apercebemo-nos que nenhum dos nossos telefones funcionava (Optimus, TMN e Vodafone), não haveria roaming para ninguém. A comunicação com a família seria feita por sinais de fumo e por e-mail. O hotel tinha internet gratuita no centro de negócios.

Depois de jantar só houve tempo para uma rapidinha e cama.




Dia 1 - 09-03-2008 - Quito

Acordámos cedo para uma manhã em grande. A guia (Maria Adélia) foi buscar-nos às 08:35h em ponto. Começámos com um passeio a pé pelo centro histórico de Quito situado a cerca de 2800 metros acima do nível do mar. Como era Domingo estava proibida a circulação automóvel em toda a zona histórica da cidade e, em diversos locais estavam voluntários a oferecer água mineral aos pedestres. Apesar dos 2800 m e dos passeios a pé não sofri das habituais dores de cabeça e insónias típicas da altitude.






O tour começou pela Plaza Grande, também conhecida como praça da independência e que está rodeada por 4 pilares da sociedade Quitenha, a Catedral, o Palácio Presidencial, o Palácio de Azobispo, e o Palácio Municipal. A guia chamou-nos a atenção para o facto de as ruas serem bem ordenadas e de, as intersecções, estarem orientadas aos pontos cardeais.

Deambulámos pela Plaza Grande, tomámos um copo de água mineral, visitámos a Catedral que é imponente e majestosa, mas que fica muito aquém da igreja La Compañia de Jesús. Esta sim, é a igreja mais exuberante e grandiosa que alguma vez vi à excepção da Sagrada Família em Barcelona. Na catedral esta um quadro de Jesus com os seus pais, mas também com os seus avós. Este tipo de representação é típica desta zona. Aqui está sepultado o Mariscal Sucre, o grande responsável pela independência do Equador.

A fachada de La Compañia, que demorou 160 anos a construir (entre 1605 e 1765), já é impressionante, mas é o seu interior completamente forrado a folha de ouro que a torna deveras excepcional. Foram gastas, no total 7 toneladas de ouro. Apesar de toda esta opulência, o interior transpira bom gosto e elegância. Mais tarde viríamos aqui de novo assistir a um concerto de música sacra apenas para podermos voltar a admirá-la.




A visita a La Compañia foi abreviada devido ao facto de estarmos entre duas missas e termos entrado por “especial favor”. Daqui seguimos para o convento / museu de S. Francisco que é o maior edifício religioso de Quito. Ainda hoje funciona como convento, igreja, museu e escola para crianças desfavorecidas.

Após a visita ao convento tomámos pequeno-almoço numa esplanada no exterior, com vista para a praça de S. Francisco onde vimos alguns dos miúdos desfavorecidos que são auxiliados pelo convento e que, nas horas vagas trabalham como engraxadores. Durante o pequeno-almoço tivemos também oportunidade de conhecer melhor os nossos companheiros de tour, um casal de Aruba, entre os 30 e os 40 anos, com ar de holandeses (Aruba é um território autónomo que pertence à Holanda, e que se situa perto da Venezuela). A Vaselina diz que a mulher tinha ar de Dominatix. Quem sou eu para desmentir? O homem fotografava desavergonhadamente com uma Leica M8 e trocava constantemente de lentes, o filho da puta!




Depois de terminado o pequeno almoço, dirigimo-nos para a Mitad Del Mundo, a norte de Quito para visitar um monumento à linha que dá o nome a este país, a linha imaginária do Equador. Ao entrarmos no parque, percebemos que a linha, de imaginária, tem pouco, pois está marcada no chão e há turistas a fazer todo o género de poses em cima dela, como que a dizer que estão divididos entre os pólos Norte e Sul. A linha do Equador tem tanto de imaginária quanto de exacta uma vez que, de acordo com os modernos sistemas de GPS, o verdadeiro Equador está 240 m a Norte da linha desenhada no chão. Enfim... valeu a tentativa... seja de que forma for, quando mostro as fotografias nunca falo destes pormenores técnicos. Os franceses (que calcularam a posição do Equador) nunca souberam fazer contas.

Terminada a visita à Mitad Del Mundo, estava também terminado o nosso tour de Quito, e era tempo de regressar ao hotel. Pelo caminho ainda tive oportunidade de apreciar a forma como os equatorianos usam carrinhas pick-up como se fossem autocarros, viajando mais de uma dezena de pessoas na caixa aberta destes veículos. Isto é que é aproveitar o espaço e recursos! Será que funcionam mesmo como autocarros? E temos que comprar bilhete?




O almoço, recomendado pela guia, foi um dos pratos favoritos da Vaselina, gelado. Um enorme gelado com crepe, frutas e toppings que ela devorou num abrir e fechar de olhos. O meu também desapareceu todo, mas não foi comido com tanta paixão.

Perto do nosso hotel e da gelataria onde almoçámos ficava o parque La Carolina onde passámos a tarde e onde apanhámos duas grandes molhas. O parque La Carolina, com uma área de 67 hectares (alguém sabe quanto é que isto dá em campos de futebol?) é o maior da cidade e, ao domingo parece que toda a população lá está concentrada. Neste parque podem praticar-se diversas actividades tais como futebol, ténis, ciclismo e alguns desportos que nos eram totalmente estranhos. Existem também inúmeras actividades para os mais novos. Nós optámos apenas por explorar o parque e apanhar uma molha logo no inicio do passeio. Resolvemos deixar a visita ao jardim botânico (também no interior do parque) para outro dia. Quando nos preparávamos para dar uma passeio de gaivota no lago artificial, começa novamente a chover, pelo que achámos que já era demais e fomo-nos secar para o hotel.




Jantámos num restaurante próximo do hotel um bife de vaca enorme e regressámos ao hotel pois não é recomendado andar a pé pela cidade depois de escurecer. Nós fizemos vários percursos a pé à noite e nunca tivemos problemas, mas fica o aviso.

De regresso ao quarto, aproveitámos para gastar algumas das calorias ingeridas ao jantar com muito... sexo! Aproveitámos a noite de sono pois no dia seguinte tínhamos avião para as Galápagos, o motivo da nossa visita ao Equador.



Dia 2 - 10-03-2008 - Quito - Guayaquil - Baltra - Santa Cruz

Partida de madrugada para voo com destino a Guayaquil, a capital económica do país e a cidade mais populosa. Esta foi uma escala para reabastecer e trocar passageiros pelo que nos mantivemos no avião e, após cerca de 45 minutos voltámos a descolar com destino à ilha de Baltra, no arquipélago das Galápagos.



No aeroporto, para além das habituais formalidades de chegada, revistaram (negligentemente) a nossa bagagem de mão em busca de resíduos orgânicos ou sementes que pudessem contaminar os habitates autóctones e revistaram também a nossa carteira (de forma nada negligente) em busca de $100. Já sei o que estão a pensar - Foda-se!!! Foi isso mesmo que pensei na altura.

À saída do aeroporto (se é que se pode chamar aeroporto a uma espécie de barracão de madeira sem paredes), estavam os funcionários do navio onde íamos ficar hospedados, o M/N Santa Cruz que nos encaminharam para um autocarro. Apesar do orgulho ferido, lá seguimos as suas indicações.

Durante a curta viagem de autocarro explicaram-nos que os guias, nas Galápagos se chamam naturalistas e mostraram-nos o aperto de mão secreto das ilhas, cujo objectivo é garantir que ninguém cai à água nos múltiplos embarques e desembarques dos barcos de borracha. Connosco funcionou.




Após uns minutos de espera junto a uns leões marinhos fedorentos, conseguimos lugar num dos barcos de borracha e rapidamente chegámos à nave mãe onde nos instalaram num quarto minúsculo e de camas separadas, mas muito confortável. O M/N Santa Cruz foi o maior e melhor navio onde estive hospedado e, acima de tudo foi o melhor hotel onde estive hospedado até ao dia de hoje. Isto deve-se, não às instalações propriamente ditas, mas ao profissionalismo competência e simpatia de quase todos os funcionários a bordo que conseguem fazer com que cada um dos passageiros se sinta especial e único a bordo. Os meus parabéns!

Todos os almoços a bordo eram de tipo buffet, pelo que comemos até rebentar. A seguir ao almoço estava marcado um briefing, no salão principal, para nos apresentarem o programa das festas e as normas “da casa”, seguido de um exercício de emergência que foi cancelado devido à chuva.

Como qualquer bom “portuga”, enquanto a tripulação estava a fazer o briefing aos hóspedes, eu e a Vaselina estávamos na biblioteca a aproveitar a internet, lenta mas gratuita, para dar notícias à família. Apesar disto, não nos safámos à injecção. A maioria dos hóspedes teve direito a uma apresentação em inglês e nós, juntamente com as únicas duas equatorianas a bordo, tivemo-la em castelhano.




Durante o briefing fomos descobrindo que nos dividiram em grupos de cerca de 14 pessoas; que cada grupo tinha um nome e que o nome do nosso grupo era “Dolphins”; que havia um grupo chamado “Boobies” e que eu não estava nesse grupo; que cada grupo tinha um naturalista destacado e o nosso naturalista era um bocado bronco; que sempre que abandonássemos a “nave mãe” tínhamos que colocar uma cruz numa listagem de nomes a sair e ao regressar tínhamos que colocar outra a dar entrada no barco. Isto era para que a tripulação percebesse se alguém tinha saído e ficado esquecido numa ilha (pelos vistos já aconteceu...).

Disseram-nos ainda para encarar os dias seguintes como uma expedição e não como um cruzeiro. Eu, que gosto de tirar conclusões precipitadas achei que aquilo era tanga para turista, apenas para nos fazer sentir aventureiros. Viria ainda neste dia a descobrir que estava enganado e da pior forma possível.

Terminado o briefing estava na altura de vestir o colete salva vidas e embarcar na nossa “Panga”, nome pelo qual são conhecidos os barcos de borracha. Antes de cada expedição era-nos indicado se íamos fazer uma amaragem seca ou molhada (caso saíssemos da panga directamente para a praia). Neste caso tratava-se de uma amaragem seca pelo que nem me dei ao trabalho de trocar de roupa nem de calçado.




A amaragem, na ilha de Santa Cruz, foi, de facto, seca mas imediatamente após pormos o pé em terra tivemos que atravessar um canal com água até ao joelho... e eu de sapatos de pele, com peúgas e calças compridas...

Como todas as ilhas deste arquipélago, Santa Cruz é uma ilha vulcânica, onde ainda se podem ver canais e câmaras de magma. É formada principalmente por basalto. No nosso percurso até ao Cerro Dragón (monte dos dragões) observámos inúmeras iguanas marinhas (sim, há iguanas marinhas e terrestres), Flamingos, Mockingbirds, mosquitos e muita, muita lama. Atrevo-me a dizer que nunca tinha visto tanta lama, nem tido tanta agarrada aos sapatos. Como se isto não bastasse começou a chover pouco tempo depois do desembarque. Eu acho que isto foi praxe!

A grande maioria dos nossos colegas de expedição eram americanos sexagenários reformados pelo que alguns deles desistiram quando a subida se começou a tornar mais íngreme, lamacenta e escorregadia. Nós lá fomos subindo com muito cuidado, mas sem cair, apenas com uma camada cada vez maior de lama nos sapatos, nas calças, nos impermeáveis e no equipamento fotográfico.



À medida que nos íamos aproximando do topo, começámos a avistar iguanas terrestres que são de cor clara, muito maiores e mais gordas que as marinhas, pequenas e pretas. A vista no topo do Cerro justifica todas as provações que tivemos que suportar. Com esta vista fantástica sobre as ilhas circundantes veio também uma má notícia, estava na altura de regressar e iríamos regressar pelo mesmo caminho. O percurso total foi de cerca de 1,5 Km.

Quando finalmente chegámos à praia, ainda com os dentes todos e sem ossos partidos, quase todos entrámos no mar até à cintura para lavar alguma da lama que trazíamos da viagem. Na panga de regresso parecíamos vítimas de um aluimento de terras, todos muito sujos, com roupas rasgadas e alguns joelhos ensanguentados das quedas.

Sempre que um grupo regressa ao barco vindo de uma ilha, um membro da tripulação lava-lhes os pés para que não exista contaminação de uma ilha com espécies características de outra. Nesse dia todos os sapatos de todos os grupos foram recolhidos e lavados pela tripulação. Seriam devolvidos no dia seguinte já apresentáveis.



Apesar da casa de banho microscópica tomámos um logo banho, para recuperar alguma da dignidade perdida e preparámo-nos para o jantar. Aqui, pela primeira vez usei uma torneira termostática (se não sabes o que é, vai ao Google), tendo gostado tanto que já substituí a de casa.

Antes de jantar, estava marcada uma sessão de perguntas com um naturalista para tirar dúvidas sobre os programas dos dias seguintes. Estava também marcado um cocktail oferecido pelo capitão para apresentação da tripulação. O jantar era bastante decente, mas o que nós queríamos mesmo era chichi e cama, ou seria sexo e cama?



Dia 3 - 11-03-2008 - Bartolomé - Santiago

Alvorada às 06:00h, como na tropa com sirene e tudo. Após o pequeno almoço, recuperámos os sapatos e desembarcámos na ilha Bartolomé (amaragem seca). Quando Buzz Aldrin visitou a ilha disse que era o sítio da terra mais parecido com a superfície lunar que ele conhecia. Quem sou eu para o desmentir?



Temos 372 degraus para subir até chegar ao topo (espero não ter contado mal) e apreciar uma das mais belas paisagens das Galápagos. Nesta ilha tudo gira à volta das formações geológicas e da paisagem. A única fauna observada foram alguns pelicanos e lagartos de lava (que mais pareciam lagartixas). O percurso total foi de cerca de 1 Km, feito numa hora e meia.

Após a subida ao cume regressámos à nossa panga para um passeio ao redor da ilha onde pudemos observar vários  leões marinhos, blue footed boobies e garças. Antes do almoço ainda houve tempo para um pouco de snorkeling. Estava na altura de tirar a ferrugem do nosso equipamento e por à prova a Olympus. Esta revelou-se uma agradável surpresa, contrastando com a má qualidade habitual das fotografias em seco, as fotos aquáticas revelaram-se melhores que as obtidas pelo conjunto Canon S50 + saco Ewa Marine. É também muito mais prática e confortável de usar.

A água estava a uns confortáveis 26ºC pelo que a aproveitámos ao máximo. Houve quem avistasse pinguins e tartarugas, nós apenas observámos raias e leões marinhos que, ao contrário do que estava a espera, não se aproximam muito.



Quando começaram as ameaças à nossa integridade física, cedemos e juntámo-nos à brigada geriátrica na panga para regresso ao barco, para mais uma sessão de lava pés e almoço. Enquanto almoçava-mos a nave mãe dirigia-se para a ilha Santiago para observarmos mais fauna e flora. Desembarque molhado. Percurso de 1,6 Km em 2,5h.

Apesar dos mosquitos (os naturalistas oferecem repelente que é bastante eficaz), e do calor extenuante, esta foi a expedição mais fácil que fizemos. Aqui observámos inúmeras iguanas marinhas que se amontoam (literalmente) em cima umas das outras ao sol para aumentar a sua temperatura. Vimos também algumas destas iguanas a entrar e sair do mar, fazendo jus ao seu nome. Inacreditável como um animal com este aspecto de dragão feroz é vegetariano. As iguanas marinhas comem algas, as iguanas terrestres comem nas nalgas (plantas rasteiras).



Em Santiago ainda observamos leões marinhos (sim, há diferença entre leões marinhos e focas, vão ao Google), garças, ostraceiros, falcões, caranguejos e leões marinhos, já falei em leões marinhos? Eram muitos e enormes. Tal como nos filmes deixavam-nos aproximar bastante quase que lhes podíamos tocar, se os naturalistas deixassem.

Antes de regressar ao navio, ainda nos deram 30 minutos para nadar um pouco  nas águas quentes do Pacífico. Depois do embarque e do lava pés fomos para o quarto à espera que o alarme de emergência soasse. Nessa altura, deveríamos vestir os coletes de emergência e dirigirmo-nos para a popa para completarmos o exercício. Este exercício tem o nome de Zafarrancho e as únicas coisas que fixei foram que este exercício deveria ter sido realizado no dia anterior e que se as coisas derem mesmo para o torto, se devem por as mãos na cabeça e gritar a plenos pulmões pela mãezinha.




Finalmente terminámos o exercício tomámos banho, colocámos o traje de noite e fomos explorar a sala de jantar. As mesas da sala de jantar tinham 8 lugares pelo que em todas as refeições a bordo ficamos acompanhados por um vasto número de americanos na 3ª idade. Ao fim de 2 dias de convívio mudámos completamente a ideia que tínhamos dos americanos. Os que conhecemos eram extremamente cultos, viajados (todos eles já tinham visitado Portugal, alguns dos quais várias vezes durante a ditadura de Salazar) e com sentido de humor. Escusado será dizer que dizem mal do George W Bush.

O que mais nos marcou foi o Bob, o tal que já tinha vindo a Portugal 3 vezes, uma das quais na ditadura. Conhecia bastante bem o país à excepção do "Allgarve". Apesar da idade avançada e do seu ar desajeitado estava sempre pronto para todos os desafios que lhe lançavam. Quando os outros (inclusive eu) fraquejavam devido ao calor, diarreia, febre ou outra desculpa esfarrapada, lá estava o Bob, com uma parte qualquer do corpo a sangrar, mas sempre pronto para mais qualquer coisa.

Antes de ir para a cama ainda tive oportunidade de fazer uma diarreia descomunal coisa que é habitual nas minhas viagens. Finalmente consegui estabilizar as entranhas e adormeci.




Dia 4- 12-03-2008 - Rábida - Seymour North

Desta vez o despertar foi às 06:30h em ponto. Será que estes gajos não se atrasam? Começámos um dia uma uma grande diarreia - quer dizer, eu comecei, a Vaselina começou com o pequeno-almoço. Depois do pequeno-almoço desembarcámos na ilha Rábida (desembarque molhado) onde continuámos a observar mais fauna exclusiva das Galápagos. O que mais me marcou foi uma manta a dar 2 saltos enormes fora de água. Não fazia a menor ideia que as mantas saltavam e de forma tão exuberante.

Outra das coisas que me marcaram foi o facto do meu corpo fora de forma e desidratado começar a fraquejar com o sol e o calor. Ao fim de 1h  de passeio fui obrigado a desistir (o percurso era de cerca de 1 Km e durou 2h). Pedi ao naturalista para esperar na praia que o tour terminasse, mas depressa percebi que os turistas não podem ficar sozinhos nas ilhas. O naturista chamou a nave mãe via rádio para que viesse outro naturista fazer de baby sitter para os desistentes (entretanto tinham-se juntado outros idosos). Finalmente o grupo lá seguiu viagem e nós ficamos na praia a recuperar forças.

Passada cerca de 1h estavam de regresso e ainda havia tempo para mais uma sessão de snorkeling e não haveria maleita nenhuma que me impedisse de aproveitar a água tépida.




Ainda antes de almoço estava marcada uma expedição de snorkeling ao largo da ilha. Muitos preferiram ficar na praia a descansar mas, como já tinha descansado bastante alistei-me juntamente com a Vaselina. Saímos de panga para o local. Tartarugas e leões marinhos nem vê-los, mas valeu a pena pela grande beleza do local. Assistimos ao almoço de um pelicano e quase que íamos servindo de almoço a um tubarão das Galápagos enorme (um adulto pode atingir 4m de comprimento). Claro que estou a exagerar, o tubarão era, de facto enorme e não era um dos habituais tubarões de recife, mas não mostrou qualquer interesse em nós. Até me senti ofendido pela falta de interesse.

Infelizmente a hora de almoço chegou depressa e tivemos que regressar ao navio. Após o almoço, mais diarreia para mim e uma apresentação em powerpoint sobre as tartarugas das Galápagos para a Vaselina e restantes turistas. Dormitei um pouco o que me permitiu recuperar forças para a saída da tarde, à ilha Seymour North. Amaragem seca, 1 Km de distância em 2,5h.



Aqui vimos uma grande comunidade de fragatas. Tivemos a sorte de ser a época de acasalamento pelo que vimos os machos com a sua grande bolsa vermelha toda insuflada. Os machos que já têm parceira não precisam de se dar ao trabalho, só os que ainda andam no engate.

Os blue footed boobies (não sei o nome em português e, na verdade, não quero saber) também habitam esta ilha em número considerável. A cor azul das suas patas só aparece na idade adulta se em caso de abundância de alimento. E eu que gosto tanto de boobies... Também existem red footed boobies, mas em menor número e, em nenhuma das ilhas que visitámos.

Como se a densidade populacional não fosse já alta o suficiente, ainda há leões marinhos em abundância, sempre com ar bem disposto. Dois deles dirigiram-se mesmo para o nosso grupo e só não nos tocaram porque o naturalista deu indicações para nos afastarmos. Estas indicações não se devem ao perigo que eles constituem para nós mas ao que nós constituímos para eles.




Após a visita à ilha e mais um trambolhão do Bob, regressámos ao navio onde nos aguardava o tradicional lava-pés, um cocktail na popa, para observar o por-do-sol e, por fim, o jantar. Quase toda a comida a bordo é confeccionada  com pimentão, acho que até os bolinhos do pequeno-almoço devem levar pimentão. O meu estômago acha o pimentão extremamente indigesto e, apesar de ter muito cuidado por vezes acabo por comer um pouco. Deve ter sido o que aconteceu, pois passado pouco tempo estava no quarto a vomitar... e de diarreia. Tomei um Imodium para ver se estabilizava e enrolei-me na cama até de manhã.



Dia 5 - 13-03-2008 - Santa Cruz

Alvorada às 07:00h. Tomámos pequeno-almoço com as únicas turistas equatorianas a bordo. Pelo que ficou sub-entendido devem ser de família bastante abastada. Segundo nos disseram é mais barato para um equatoriano ir passar férias ao estrangeiro (grande país esse, o estrangeiro) do que visitar as Galápagos. A juntar a isto, o Santa Cruz é um dos barcos-hotel mais caros a navegar nestas ilhas. Eram ambas bem simpáticas e muito giras. A mais nova ainda era estudante, a mais velha era informática num banco. Os informáticos devem ganhar muito bem no Equador...

À medida que ia comendo, o meu estômago ia-se revoltando cada vez mais até que percebi que não conseguia chegar ao quarto. Coloquei um dos guardanapos de pano a tapar a boca e corri para o quarto já a vomitar abundantemente. Pelo caminho ficou um rasto nojento de cereais, leite e outras merdas que tinha acabado de comer. Para complicar ainda mais as coisas, a diarreia voltou a atacar. Estava demasiado fraco para desembarcar em Santa Cruz.





Passei o equipamento fotográfico à Vaselina e ela lá foi observar as tartarugas gigantes (desembarque seco), enquanto que eu fiquei no salão principal à espera da médica de bordo e que limpassem o nosso quarto para ir descansar um pouco. A consulta não adiantou muito. Como já estava medicado e não estava em estado grave, a médica receitou-me apenas um almoço de dieta e cama. Obedeci prontamente. Cerca das 12:00h chegou o meu frango no forno e arroz branco que pareciam ter sido confeccionados num hospital. Fiz um esforço tremendo para comer.

Entretanto, na Ilha de Santa Cruz (uma das poucas nas Galápagos com água doce), segundo a Vaselina visitava o rancho Primicias que funciona como uma reserva de tartarugas gigantes que pastavam alegremente no meio da vegetação. Ao contrário do que fez o Mário Soares, não se pode tocar nas tartarugas, muito menos montá-las. Não se pode tocar nas tartarugas excepto se for um motorista de autocarro para desviar uma da estrada de forma a que o autocarro possa passar. Devido à grande quantidade de lama tiveram que calçar galochas, o que consistiu um problema para a Vaselina que tem pézinhos de fada (nº 34) e não encontrou 2 galochas do mesmo número. Armada de uma galocha 35 e de outra 36 lá foi ela ao encontro das tartarugas gigantes.




Durante a manhã, já fora do rancho Primicias, houve ainda tempo para visitar um canal de lava. Armados de lanternas o grupo entrou num túnel comprido e de grande diâmetro que quase parecia ter sido construído pelo homem de tão perfeitas as suas formas, mas que foi formado pela passagem de muitos litros de lava incandescente a fluir em direcção do mar.  

O almoço foi num restaurante isolado (de nome Narval), rodeado por uma paisagem linda e acompanhados por um mocho selvagem,  daqui seguiríam para o Centro de Crianza de Tortugas Gigantes. Foi aqui que eu depois de arranjar forças me reuni ao restante grupo ainda a tempo para ouvir o guia a falar da várias espécies de tartarugas gigantes. Cada ilha tem a sua espécie característica e, em Santa Cruz estas são criadas em cativeiro para mais tarde repovoarem as ilhas.




Após a visita aos pontos mais importantes do centro, os guias deram-nos cerca de 2h para explorarmos por nossa conta o parque e nos dirigirmos, a pé para Puerto Ayora onde poderíamos fazer compras ou conhecer a cidade. Apenas tínhamos que estar no cais antes da última panga partir, cerca das 18:00h. Preferimos passar mais algum tempo junto das tartarugas gigantes antes de nos dirigirmos lentamente para a cidade. As tartarugas, apesar suas dimensões, são tímidas e medrosas. Passam a maior parte do tempo escondidas nos arbustos e se alguém se aproxima refugiam-se na carapaça.

A descida até ao centro de Puerto Ayora foi lenta, devido à minha fraqueza (principalmente de espírito), mas também para apreciar bem os aspectos singulares da vida nas Galápagos. Observámos um mercado de peixe ao ar livre, com os clientes normais a escolher o melhor peixe e, nas traseiras, uma multidão enorme de leões marinhos e pelicanos a tentar roubar qualquer coisa. De vez em quando um dos funcionários afugentava-os com uma mangueirada mas num abrir e fechar de olhos todos os intrusos estavam de regresso, esfomeados.




Ao lado do mercado de peixe fica a Baía dos Pelicanos, onde parece que os pelicanos crescem nas árvores. Há dezenas deles nos mangais que rodeiam a baía, parecem pardais pousados nas árvores para pernoitar. Claro que tamanha concentração de pelicanos tem impacto na vida da população, chegando mesmo a parar o trânsito quando uma destas aves, mas teimosa insiste em parar na estrada.

Ainda a caminho do cais tivemos oportunidade de comprar alguns recuerdos para a presentear a família mais chegada. Ao aproximar-se a hora de chegada, aproximámo-nos do cais onde reencontrámos o Bob... novamente a sangrar de uma perna, mas bem disposto como era hábito.

Puerto Ayora é a maior e mais desenvolvida cidade das Galápagos.




Embarcámos na panga para o nosso último lava-pés (que saudades tenho tido dos lava-pés) e para a nossa última noite a bordo. Apesar de de não ter estado na minha melhor forma já estava a sentir alguma nostalgia à medida que me aproximava da nave-mãe.

Depois de jantar houve um cocktail de despedia oferecido pelo capitão, espectáculo de danças típicas no salão principal, seguido da actuação de uma banda local (da qual fazia parte o naturalista que acompanhou o nosso grupo).

Depois de feitas as despedidas e de deixar duas gorjetas obscenamente altas (uma para a tripulação outra para os naturalistas) rumámos ao quarto, onde ainda houve outras actividades para além de dormir...




Dia 6 - 14-03-2008 - San Cristóbal - Guayaquil - Quito

Alvorada às 06:45h. Isto parece mesmo a tropa, ou um campo de concentração... Após o pequeno-almoço e para despedida, a tripulação tinha preparado uma apresentação em PowerPoint com fotos que nos foram tirando durante a nossa estadia nas Galápagos.

Desembarque seco em San Cristóbal (a capital da província das Galápagos) onde visitámos o Galápagos Interpretation Center que funciona como museu estático com informação escrita e esquemas, mas sem grande interesse. Não perdemos muito tempo no centro de interpretação e regressámos ao cais para recuperar as nossas bagagens e esperar pelo autocarro para o aeroporto. Aproveitamos para tirar as últimas fotos dos leões marinhos que invadem os barcos parados no porto. O nosso naturista tinha um barco parado na marina, mas este estava “forrado” com arame farpado para que os leões marinhos não subam a bordo. Naturista de profissão, mas leões marinhos no barco nem vê-los...

Ao chegar ao aeroporto percebemos que o nosso voo estava atrasado cerca de 2h. Apesar de o serviço da Metropolitan Tours ter terminado no momento em que nos deixaram no aeroporto, voltaram ao navio para buscar sanduíches, águas e sumos para nos tornar a espera menos penosa. Mais um excelente exemplo de como é um serviço de qualidade!




Finalmente o voo partiu com destino a Quito, de novo via Guayaquil. No transfer do aeroporto para o hotel aproveitámos para reservar um tour ao vulcão Cotopaxi dali a 2 dias. Chegámos ao hotel Dann Carlton (****) ao final do dia pelo que, após o check-in, apanhámos um taxi para um restaurante que nos tinha sido recomendado pelas duas Quitenhas que tínhamos conhecido nas Galápagos.

Comemos 2 deliciosos bifes do lombo grelhados e enormes. A carne parecia Argentina, mas ainda nos soube melhor. O restaurante fica perto da praça de touros, mas não me recordo do nome. Isto é que é informação de qualidade. Quem é que precisa do Lonely Planet quando tem informação desta ao dispor?

Depois de jantar, taxi para o hotel, chichi, cama e motocross alentejano.




Dia 7 - 15-03-2008 - Quito

Após o pequeno almoço apanhámos um taxi para a cidade antiga onde começámos por visitar o palácio presidencial, sim, a residência oficial do presidente. A visita, gratuita, foi conduzida por um guia com ar muito competente e prestável. Tivemos que deixar as mochilas na recepção e passar pelo detector de metais, mas era permitido fotografar. Ainda no pátio interior, pouco depois da visita ter começado, estava um fotógrafo profissional a fotografar os turistas. Depois de todos os elementos do nosso grupo terem sido fotografados, começámos a visita propriamente dita, onde o guia nos contou alguma da história do palácio, e da bandeira (tivemos que fazer uma vénia à bandeira).

No primeiro piso visitámos algumas das salas oficiais, como a sala de banquetes, o concelho de ministros, a capela, uma varanda com vista para a Plaza Grande e várias salas com  fotografias e presentes oferecidos aos vários presidentes e ao povo do Equador. À saída deram-nos a fotografia que nos tiram tirado como recordação da visita. Eu, que gosto de teorias de conspiração, acho que nos tiraram a foto para registo de uma qualquer agência de segurança e no-la deram apenas para disfarçar.




Já no exterior tirámos fotos junto dos guardas de honra que pareciam soldadinhos de chumbo e continuamos o nosso passeio deambulando pelas ruas da cidade antiga. Este passeio estava a ser feito com base no percurso pedestre sugerido pelo Lonely Planet e visitando os locais sugeridos pelo guia.

O percurso pedestre levou-nos ao Museo de la Ciudad que ocupa o restaurado Hospital San Juan de Dios e relata cenas do dia a dia da cidade ao longo dos séculos. Este museu também acolhe exposições temporárias de vários artistas nacionais. Vale a pena a visita.

Passámos por uma das ruas mais antigas e emblemáticas de Quito, La Ronda com as suas varandas em estilo colonial. Atenção aos roubos por esticão nesta zona. Almoçámos num pequeno restaurante aqui perto, mas comemos a sobremesa na Heladeria San Agustín, que produz os seus próprios gelados de grande qualidade.




Continuámos o nosso percurso até à Basílica del Voto Nacional, um templo gótico cuja construção iniciou em 1926 e durou várias décadas. É possível subir às torres onde se encontram os relógios e os sinos. Eu fiquei-me pela altura dos relógios, mas a Vaselina que não tem medo de escadas com ar frágil subiu até aos sinos. Ainda dizem que as mulheres não são corajosas... A vista, segundo ela, vale a pena o esforço.

Depois de explorada a basílica seguimos o nosso percurso até ao parque La Alameda onde descasámos um pouco e observámos os transeuntes. Começámos a entrar naquele período do dia que se chama lusco-fusco pelo que resolvemos tomar um taxi e regressar ao hotel para enviar mais uns mails para a família enquanto esperávamos pela hora de jantar. Jantámos noutro restaurante de carne recomendado pelas Quitenhas que conhecemos nas Galápagos. Depois de jantar ainda fomos a um centro comercial tentar comprar um impermeável para mim pois o meu (comprado 2 anos antes, no Peru) tinha ficado sem fecho nas Galápagos. À falta de um impermeável comprei uma espécie de fato de treino semi-impermeável, mas que me deu muito jeito no dia seguinte para me manter quente no Cotopaxi.

O dia terminou de noite e, com sexo em abundância.





Dia 8 - 16-03-2008 - Quito - Cotopaxi - Quito

Partida bem cedo pela manhã com destino ao vulcão Cotopaxi que, com os seus 5897m de altura, é um dos vulcões mais altos do mundo. Esta é uma excursão com a duração de um dia inteiro e a principal atracção não é o vulcão propriamente dito, mas sim o caminho até ao seu cume e as imediações.

O Cotopaxi fica a cerca de 45 Km (em linha recta) a Sul de Quito. O primeiro trecho da viagem é feito de autocarro e permite uma vista fantástica sobre a Avenida de los Volcanes. Quito fica situada num vale muito comprido ladeado por mais de 10 vulcões activos todos eles com os cumes acima dos 5000 m. Parece uma avenida ladeada por árvores.




O autocarro deixou-nos na estação ferroviária de Tambillo, onde tomámos o Chiva Express que, mais não era, que um autocarro montado em cima de carris. Enquanto esperávamos que o “comboio” aquecesse o motor, fui ao pior WC de toda a minha vida, também este instalado num  vagão de caminho de ferro.

O Chiva Express oferece a possibilidade de se viajar no tejadilho (existem cadeiras com cintos de segurança e grades), possibilidade essa que eu declinei logo pelo calor e conforto do interior, mas que a Vaselina me convenceu a aceitar. Ainda bem que ela o fez pois a experiência e a vista valem por todo o frio que passámos. É entregue uma manta a cada pessoa para ajudar a suportar o frio, mas o que faz mesmo esquecer o frio é a paisagem andina, de cortar a respiração.

O comboio para numa quinta antiga para tomarmos o pequeno almoço tradicional, com produtos fabricados no local. A casa principal, do início do séc. XX, serve de habitação aos proprietários (que no-la mostraram e contaram a história). Alguns dos seus quartos são alugados a turistas. A casa é lindíssima e está conservada como se de um museu se tratasse. O pequeno-almoço não era mau, mas as minhas papilas gustativas ainda não tinham acordado para o saborear convenientemente. Um pouco antes do fim da viagem, o comboio atravessa a auto-estrada Pan-Americana. Não pensem que há uma passagem de nível com guarda ou semáforos, não! O comboio avança como se não existisse mais ninguém e os automóveis, se quiserem, que parem.

A Pan-Americana é a mais longa estrada transitável do mundo com 47 958 Km de comprimento, ligando o Alasca a Ushuaia na Argentina.





O Chiva Express apenas nos levou aos arredores do Parque Nacional Cotopaxi, a partir daí, de volta ao autocarro e, em direcção ao vulcão, por caminhos indescritíveis. Atravessámos um rio a vau e, perante o ar de espanto dos turistas, a guia disse-nos que aquilo era normal e não era nada. Mais complicado foi cruzar uma poça de água da chuva que mais parecia um pequeno lago com um precipício de um dos lados. Foi tão complicado que perdemos cerca de 10 minutos e tivemos que recorrer à ajuda de um local que estava ali precisamente para guiar o trânsito e ganhar uns trocos. Parecia um arrumador. A situação teve tanto de assustador quanto de caricata.

Finalmente entrámos no parque nacional, mas continuámos sem ver o vulcão. Estava um daqueles nevoeiros lá em cima... Parámos num lago onde habitualmente se avistam algumas espécies autóctones, mas nem conseguíamos ver a ponta dos nossos narizes, quanto mais o lago ou os animais. Seguimos para o restaurante para o almoço. Nesta zona, a cerca de 3600 m estava um frio de morte, mas a paisagem era, mais uma vez, de cortar a respiração. Se ao menos se conseguisse ver o vulcão...




O almoço decorreu numa quinta onde os alpinistas que pretendem escalar o Cotopaxi ficam hospedados cerca de uma semana antes da escalada para se habituarem à altitude. A maioria dos nossos companheiros de tour iriam partir para as Galápagos no dia seguinte pelo que, ao saberem que nós tínhamos vindo de lá, nos bombardearam com perguntas. À semelhança do que tinhas visto no navio, todos eles já tinham entrado na 3ª idade. Será que só os idosos podem visitar as Galápagos? Se assim for porque nos deixaram entrar? Será que foi por isso que nos cobraram os $100?

Pelas janelas do restaurante vimos aproximar-se uma manada de cavalos selvagens e algumas aves.Não vimos um único urso ou veado. Depois do almoço, autocarro directo para Quito, onde chegámos ao final da tarde. Passeámos um pouco a pé na zona do nosso hotel e quando se aproximou a hora de jantar, tomámos um taxi para outro restaurante que nos tinha sido recomendado.





Dia 9 - 17-03-2008 - Quito - Quito e Quito

Este era o nosso último dia completo em Quito e estava todo por nossa conta. Acordámos cedo, tomámos um pequeno-almoço reforçado e abordámos um taxi para El Panecillo. O preço do taxi tem que ser regateado antes da viagem e no nosso caso regateámos logo o preço de meia hora de espera no Panecillo e da viagem seguinte até ao Telefériqo.

El Panecillo fica numa elevação já nos arredores da cidade e é um dos pontos mais emblemáticos da capital. É uma estátua da Virgem de Quito, com asas de águia, pisando um dragão em cima do mundo. O monte onde a estátua foi erguida chama-se Panecillo, o que se pode traduzir por pequeno pão.

A vista do Panecillo é maravilhástica! De um lado o centro da cidade de Quito, permitindo uma nova perspectiva sobre os monumentos do Casco Antiguo que tínhamos visitado nos dias anteriores. Do outro lado a avenida dos vulcões. A visita ao Panecillo deve ser feita nas primeiras horas da manhã, enquanto ainda não se formaram nuvens nos cumes dos vulcões. A não perder se fores a Quito.





Visitado El Panecillo seguimos em direcção ao Telefériqo, onde chegámos ainda antes do horário de abertura (09:00h). O teleférico leva-nos dos 2950 m até aos 4100 m, muito perto do cume do vulcão Pichincha. Ao chegar ao topo somos com mais uma vista sobre a cidade e com um frio intenso. Daqui podemos seguir um trilho até ao cume do vulcão Rucu Pichincha. Devido à menor concentração de oxigénio na atmosfera a esta altitude, custa bastante andar, ficamos ofegantes  ao dar 3 ou 4 passos, pelo que qualquer caminhada se faz de forma extremamente lenta.

Caso estivéssemos em forma podíamos completar a caminhada até ao cume do Rucu Pichincha em cerca de 3h. No nosso caso andámos cerca de 1,5h e desistimos. É um esforço enorme deslocarmo-nos poucos metros. A única coisa chata da nossa desistência é que ainda tínhamos mais 1,5h de caminho para regressarmos à base. Havia avisos por toda a parte relativos aos perigos da altitude, pedindo para não correr e andar devagar. Nós não sofremos mal maior, apenas o cansaço.




Descemos no teleférico e almoçámos no Vulqano Park (parque de diversões, restaurantes e lojas), nas imediações do Telefériqo. Depois de almoço vagueámos um pouco pelas lojas do parque e apanhámos um taxi para o centro da cidade. Como este parque fica fora da cidade e há poucos taxis, não esperem que estes queiram negociar. O melhor é aceitar o preço que o taxista pretende ou esperar pelo próximo taxi, o que pode demorar um pouco.

O taxi levou-nos para o parque (jardim) El Ejido, onde passeámos um pouco, mas acima de tudo, descasámos e observámos a vida quotidiana de Quito que passava por perto. Pelas 18:00h havia um concerto de música sacra na igreja La Compañia pelo que fomos para o hotel trocar de roupa e deixar algum peso antes de nos dirigirmos para a igreja. Enquanto andávamos pela rua a procura de um taxi, parou uma senhora num Toyota Yaris Sedan (3 volumes) e ofereceu-se para nos levar por um valor abaixo do que os taxis habitualmente cobravam. Apesar de algum receio, aceitámos. Ela pediu-me logo para ir no banco da frente para que a polícia não suspeitasse.

Aproveitei para fazer algumas perguntas sobre as condições de vida no Equador e alguns aspectos práticos também. Havia algo que me inquietava há já vários dias e que ainda não tinha conseguido perceber. Vi vários automóveis sem placas de matrícula ou com publicidade no seu lugar. Parece que os carros novos, enquanto não têm livrete, não têm matrícula. Podem andar assim durante 6 meses. Mais tarde, no Vietname, observei a mesma coisa. O que eu gostava que em Portugal também fosse assim...






Estava um trânsito infernal, já passavam das 18:00h e a viagem nunca mais acabava. Pagámos e despedimo-nos uns quarteirões antes do destino e fizemo-los a pé para ser mais rápido pois estávamos com medo que já não nos deixassem entrar. Claro que deixaram, afinal estávamos num país latino e, como tal, muito pouco pontual. Assistimos a um bocado do concerto, mas o que nos levou lá não foi a música, mas sim, a beleza da igreja. Sim, aquela que foi construída com 7 toneladas de ouro.

Antes do concerto terminar saímos para jantar no Hotel Patio Andaluz que ficava perto. Este hotel deve o seu nome ao facto de ter um pátio andaluz no seu interior. Muitas das casas do Casco Antiguo têm pátios andaluzes. O hotel era lindíssimo, mas a comida não era nada de especial. Depois de jantar, taxi para o hotel. De noite, os taxis também não regateiam o preço.

Aposto que já sabem o que fizemos para gastar as calorias do jantar. Depois disto, chichi e cama.





Dia 10 - 18-03-2008 - Quito - Guayaquil - Madrid - Lisboa

O nosso voo de regresso era ao final do dia. Após o pequeno-almoço, fizemos o check-out e pedimos para nos guardarem as malas  por umas horas e  seguimos na direcção do Museo Del Banco Central, um dos museus mais importantes do país. O museu tem 4 grandes salas (sala de arqueologia, sala do ouro, sala de arte colonial e sala de arte contemporânea), cada uma delas ocupando um piso completo. Ao comprar os bilhetes foi-nos dada a possibilidade de sermos acompanhados por um guia voluntário em inglês. Como era gratuito resolvemos aceitar... o que se revelou um erro enorme. O guia, Equatoriano, falava muito mal todas as línguas, até o castelhano era mal pronunciado (ele falava para dentro e muito baixinho). O inglês foi do pior que alguma vez ouvi e, como se isso  não bastasse o gajo ainda tinha a mania que falava chinês, português e várias outras línguas. além de não nos ajudar a perceber nada, ainda distraía. Segundo ele um dos artefactos representava “a woman’s pussy”, quando deveria dizer “a woman’s vagina”. Eu ainda lhe pedi para repetir para ter a certeza que ele tinha dito aquilo... o que tive que morder os lábios para não rir à gargalhada.

À saída do museu, chovia a cântaros e apanhámos uma grande molha. Almoçámos num restaurante ali perto e seguimos, de taxi, para o Jardín Botánico, no Parque La Carolina que nos tinha sido recomendado por várias pessoas ao longo da nossa estadia no Equador. Este jardim tem mais de trezentas espécies de plantas e árvores provenientes de todo o Equador, incluindo várias espécies de orquídeas. A visita valeu mesmo a pena. Tirei inúmeras macros a todo o tipo de flores exóticas.





Tivemos que apressar a nossa visita ao jardim botânico pois estava-se a aproximar a hora do nosso voo. Regressámos, a pé, ao hotel recuperámos as nossas bagagens enquanto o transfer chegava para nos levar para o aeroporto. despedimo-nos silenciosamente de Quito e do Equador durante o percurso até ao aeroporto.

Já sabia que o voo fazia escala em Guayaquil, o que não sabia era que tinha que sair do avião, esperar cerca de 1h na fila para passar de novo pela segurança e detector de metais para embarcar de novo no mesmo avião! Não sei se a responsabilidade é da Iberia ou das autoridades locais, o que sei é que ainda hoje estou chateado com a Iberia e, se puder não voar com eles, não voo.

A restante viagem decorreu sem episódios dignos de nota, tendo nós chegado a casa no dia seguinte ao final da manhã.





The End

E lembrem-se, não se deixem apanhar.

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