quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Review - Glock 32








Filosofia de Uso
- Arma de defesa


Calibre - .357 SIG


Dimensões e peso
- Comprimento Total -  18,7 cm
- Comprimento Cano -   4’’
- Peso - 0,68 kg


Miras 
- Decentes, adequadas à função defensiva.
- 3, numa escala de 1 a 5


Gatilho
- 2 tempos
- Relativamente preciso.
- Adequado à utilização como arma de defesa
- 4, numa escala de 1 a 5


Fiabilidade - 5, numa escala de 1 a 5


Qualidade de construção - 5, numa escala de 1 a 5


Ergonomia - 5, numa escala de 1 a 5


Facilidade de utilização
- Excelente ao nível do manuseamento.
- Recuo elevado dificulta a utilização por utilizadores inexperientes..
- 4, numa escala de 1 a 5


Durabilidade - 5, numa escala de 1 a 5


Valor - 3, numa escala de 1 a 5. Munições demasiado caras.
Design  - 2, numa escala de 1 a 5


Energia
- Velocidade média com munições Prvi Partizan de 125 gr - 381 m/s..
- Média de 588 J de energia.
- 5, numa escala de 1 a 5

Classificação final - 4, numa escala de 1 a 5






Olá a todos. Sejam bem vindos à minha review da Glock 32.

Esta arma apenas pode ser adquirida em Portugal por elementos das forças de segurança, após autorização da Direção Nacional da PSP.

A principal preocupação de quem manuseia armas de fogo deve ser sempre a segurança, portanto, vamos certificar-nos que a arma se encontra em segurança. Vamos retirar o carregador, puxar a corrediça à retaguarda e inspecionar visual e fisicamente se existe alguma munição na câmara, após essa verificação libertar a corrediça á frente e efetuar o disparo de segurança para uma área limpa e segura

Nunca se deve manusear uma arma de fogo sem se ter executado os passos descritos anteriormente.

Agora que já sabemos que a arma se encontra em segurança, deixem-me explicar-vos, a minha relação de amor / ódio com as Glock. Conheço a marca Glock, e o modelo 17 desde o início dos anos 1990. Tratou-se de amor à primeira vista, mas ao contrário. O que eu desprezava a marca e o modelo 17 em particular. Como é que eu podia gostar de uma arma feita de plástico e com um aspeto tão grotesco? Nem mesmo as avaliações extremamente positivas que recebia na imprensa da especialidade me convenciam. Como é que um jornalista e amante de armas se atrevia a falar bem de uma arma com este aspeto horrível? Não me interessava o facto de a arma ser muito mais avançada que todas as suas concorrentes diretas. Só de olhar para ela já ficava com náuseas. Nem queria imaginar chegar perto de uma. Que nojo! Eu sei, eu sei, é o meu lado feminino a falar.





Em 2011 tive oportunidade de experimentar uma Glock 19, a versão “compacta” da 17. Deixem-me dizer-vos que não fiquei muito entusiasmado com a oportunidade mas, não deixei que as náuseas me impedissem de experimentar uma arma nova e de dar uns tiros. Pelo menos agora podia dizer mal com conhecimento de causa... Sempre considerei importante conhecer o inimigo.

Depois de disparar uns quantos carregadores vi a luz! Consegui abstrair-me do facto de serem horrendas e passei a adorá-las. Como eu era burro antes deste dia. Hoje ainda sou, mas acho que já não sou tanto. Como é que se pode não gostar de uma arma só pelo facto de ser muito, muito, muito feia? Passei do 8 para o 80. Desde então já disparei muitas outras Glock nos calibres 9 mm Parabellum, .40 S&W e .357 SIG.





Antes de passar à review da Glock 32 ainda quero aproveitar para tentar explicar tudo aquilo que torna as Glock tão eficazes, especiais e, ainda hoje melhores que a concorrência.

A Glock 17 foi uma das primeiras armas de mão feita de plástico (polímero), tendo sido a primeira a obter sucesso comercial. Este facto permitiu-lhe ser muito mais leve que as suas concorrentes, tendo maior capacidade para munições (17 face às 15 que eram standard na altura em que foi lançada) e uma fiabilidade próxima da perfeição.

Ainda mais impressionante é o facto de ter sido desenhada por um engenheiro que não tinha experiência nenhuma no desenvolvimento de armas de fogo. A sua especialidade eram, e ainda são, os polímeros sintéticos, por outras palavras o plástico ou Tupperware. Esta foi uma arma revolucionaria, não só por ser fabricada em plástico, mas também pelo seu sistema de seguranças automáticas, dispensando dispositivos de segurança manual e simplificando a sua utilização, mantendo elevados padrões de segurança. Se tiver que descrever as Glock em duas palavras, tenho que dizer “Glock Perfection”. Só é pena que as putas das armas sejam feias que nem cornos. Foda-se! Será que não podiam ter tido um pouco mais de cuidado com a aparência?



Vou tentar explicar-vos o que me fez esquecer o aspeto asqueroso das Glock e me fez passar a adorá-las como se fossem as armas mais bonitas do planeta (as SIG Sauer):

O fator determinante foi a total falta de seguranças manuais. A Glock, ao sair do coldre, deve vir pronta a disparar. A única preocupação do utilizador deve ser em alinhar as miras com o alvo e premir o gatilho. Não me interpretem mal, os modelos P228 e P226 da SIG, entre muitos outros, fazem quase o mesmo com uma grande diferença, o curso do gatilho no primeiro tiro é muito diferente dos tiros seguintes, e isso pode fazer toda a diferença numa situação crítica.

O facto de as Glock não terem segurança manual, não quer dizer que sejam pouco seguras, muito pelo contrário. As Glock têm 3 tipos de segurança automática:

1- Glock Safe Action. Trata-se de uma patilha no gatilho que só ativa o mecanismo do gatilho se devidamente premida, tornando quase impossível efetuar um disparo através de um toque involuntário no gatilho.

2- Segurança do percutor. Esta é uma barra metálica que bloqueia o percutor. Esta barra é desativada pelo movimento do gatilho à retaguarda.

3- Segurança anti-queda. Esta segurança impede que a barra do gatilho funcione sem que o gatilho seja premido, evitando disparos acidentais, mesmo que a Glock seja deixada cair de uma altura considerável.

Tenho bastantes horas de treino com pistolas para dar muito valor ao facto de uma arma não ter segurança manual. Se um fabricante coloca uma segurança manual numa arma, isto quer dizer que este a desenhou para ser usada com a segurança ativada. Sob stress, é muito fácil retirarmos a arma do coldre, alinharmos as miras com o alvo e premirmos o gatilho sem que nada aconteça porque nos esquecemos de desativar a segurança manual. Isto aconteceu-me várias vezes com uma FN Five Seven, felizmente, sempre em treino e nunca numa situação crítica, onde uns meros segundos me poderiam ter custado a vida.




Para além das seguranças, outro dos fatores que me fez apaixonar pelas Glock  foi o facto de serem construidas apenas com o número de peças necessário para que funcionem na perfeição. Não têm nem uma peça a mais, e toda a gente sabe que quanto menos peças tem uma máquina, menos probabilidades esta tem de avariar. Para além de seguranças manuais, as Glock não têm seguranças (desnecessárias) de empunhadura, indicador dedicado de percutor armado ou indicador dedicado de munição na câmara.

Quando digo que não têm indicador de percutor armado, quero dizer que não têm nenhuma peça extra que indique o percutor está armado, pois, se olharmos para o gatilho, podemos verificar que o percutor se encontra armado se este estiver estendido para a frente.

Da mesma forma, podemos concluir que temos uma munição na câmara se observarmos atentamente e tatearmos o extrator. Se este se encontrar saliente indica que temos uma munição na câmara.

O facto de terem poucas peças, faz com que sejam muito fáceis de operar, desmontar e limpar. Atrevo-me a dizer que uma Glock é quase tão fácil de utilizar como um revólver, com todas as vantagens inerentes a uma semi-automática. Até um atrasado mental, como eu, consegue operar uma Glock em situação de stress com excelentes resultados.




A juntar à já longa lista de pontos positivos das Glock ainda tenho que adicionar o facto de haver um grande número de peças que são compatíveis entre modelos. Deixem-me exemplificar:

1- Os canos, carregadores e molas de recuperação são compatíveis entre modelos do mesmo tamanho e geração. Isto quer dizer que, para transformar uma Glock 32 numa 19, basta apenas trocar o cano e o carregador (é recomendável que se troque também a mola de recuperação para garantir fiabilidade com todos os tipos de munição). A título de exemplo, a Glock 32 que é objeto desta review, disparou primeiro munições de 9mm Parabellum, com o cano e carregador de uma Glock 19 e só uns dias depois disparou munições de .357 SIG. Caso se pretenda converter uma Glock de calibre .357 SIG em .40S&W, basta apenas trocar o cano. As molas de recuperação e carregadores são iguais.

2- Os carregadores são compatíveis com os vários modelos, dentro do mesmo calibre, ou seja, uma Glock 19, pode usar o carregador de 17 munições da Glock 17 ou o carregador de 33 munições da Glock 18. Não é necessária qualquer adaptação. A única desvantagem é que o carregador sobressai da empunhadura. No caso da Glock 32, esta pode usar os carregadores de 15 munições da Glock 31 ou da Glock 22.

Para terminar a lista de pontos positivos, e para justificar o slogan da marca que é “Glock Perfection”, tenho que falar na fiabilidade inabalável das Glock. Se não houver erros do operador ou problemas nas munições, de cada vez que se aperta o gatilho, sai um tiro. Comprovei isto em primeira mão com os milhares de tiros disparados com os mais variados modelos, muitas vezes sem a manutenção adequada das armas.

Ah, é verdade, ainda me faltava mais um ponto positivo. O tratamento anti-corrosão aplicado nos canos e corrediças da Glock, conhecido por Tenifer. Este tratamento, que é aplicado por baixo da pintura, torna-as muito resistentes ao uso e, à corrosão. O aço depois de sujeito a este tratamento, fica com maior resistência à corrosão que a maioria dos aços inoxidáveis atualmente no mercado. (A sério, não tenho ações da Glock, nem ganho à comissão por armas vendidas. Nem sequer trabalho no ramo da armas)

Então e pontos negativos? Já vos falei no aspeto horrendo que têm? Tirando a estética, não me ocorre mais nada. Algumas pessoas queixam-se do ângulo da empunhadura, mas, pessoalmente, isto não me afeta, nem afeta os resultados que consigo com estas armas.



Agora que já expliquei as razões que me levaram a adorar estas armas, vamos focar-nos um pouco no sujeito desta review que é a Glock 32.

O modelo 32 insere-se na categoria “Compact” da Glock, ao lado do modelo 19, em 9mm Parabellum e da Glock 22 no calibre .40 S&W, mas deixem-me assegurar-vos que chamar-lhe compacta é exagerar bastante. Claro que é mais pequena que uma 17 ou 31, mas, só alguém muito otimista poderá achá-la compacta. A categoria que a Glock considera “Sub-Compact”, essa sim, é que se pode considerar compacta o que, no mesmo calibre se traduz no modelo 33.

O facto de não ser compacta tem desvantagens para quem a pretende trazer escondida num coldre e para quem tem mãos muito pequenas, mas tem vantagens ao lidar com o considerável recuo do cartucho .357 SIG. Tem também vantagens na capacidade do carregador. De origem, a Glock 32 vem com 2 carregadores com capacidade para 13 munições e, tal como referido anteriormente, é compatível com carregadores de capacidade superior nos calibres .357 SIG e .40S&W.

Claro que, o que distingue o modelo 32 do 19 é o seu calibre, o .357 SIG, desenvolvido em 1994 numa cooperação entre a empresa Suíça de armamento SIG e o fabricante de munições americano Federal, com o objetivo de replicar a performance do calibre . 357 Magnum num cartuxo apropriado a pistolas semi-automáticas. O .357 SIG resulta da redução de um cartuxo de calibre .40 S&W para 9mm, obtendo-se o característico formato de "garrafinha" com as dimensões de 9x21,97mm.

Na tabela, podemos comparar a energia desenvolvida por um típico cartucho de .357 SIG com cartuchos comuns noutros calibres:



 Podemos observar as vantagens claras face ao 9 mm Parabellum e até mesmo ao .40 S&W.

O .357 SIG é considerado por muitos agentes da autoridade e especialistas em segurança americanos, entre os quais Massad Ayoob, como o melhor cartuxo de 9mm atualmente em produção. É também considerado por muitos como o melhor calibre para defesa pessoal por apresentar um excelente compromisso entre penetração e expansão. O serviço secreto dos EUA, responsável pela defesa do presidente americano, adotou este calibre no final dos anos 1990.

A forma de "garrafinha" elimina, quase na totalidade, todos os problemas de alimentação. Este formato aumenta também as características balísticas do cartuxo ao produzir o mesmo efeito que uma agulheta tem numa mangueira. Nos nossos testes empíricos contra o 9mm Parabellum (9x19mm), o .357 SIG, revelou-se muito superior. Quando disparados contra um disco rígido, o 9mm apenasconsegue perfurar a tampa superior e deformar ambos os pratos enquanto que o .357 SIG perfura ambos os pratos e ambas as tampas.

A grande desvantagem do .357 SIG face à concorrência é o preço das munições. Em Portugal uma caixa de 50 custa cerca de 30€.

O recuo acentuado (superior ao do .40 S&W mas inferior ao do .357 Magnum) também pode ser considerado um handicap. O elevado recuo não é doloroso na Glock 32, mas dificulta os tiros de follow up rápidos e certeiros. Este não é, claramente, um cartucho para principiantes, que se podem assustar com o coice e ter efeitos negativos na precisão. Conheço duas mulheres que dispararam a Glock 32, conseguindo resultados decentes, mas que não a acharam divertida de disparar, quando comparada com uma 19. Existem vários estudos que indicam que, mesmo atiradores experientes, disparam com maior rapidez e precisão o 9 mm Parabellum que o .45 ACP, .40 S&W, .357 SIG, entre outros. Espero que este parágrafo sirva de alerta para que, mais, não é necessariamente melhor.




Ao disparar, a Glock 32 produz uma enorme bola de fogo, visível em plena luz do dia, e que é fantástica de se ver, mas revela desperdício de energia e pode ter efeito negativo numa situação de defesa pessoal noturna. O cano de 4'' da Glock 32 não consegue tirar partido de toda a energia desenvolvida pelo cartuxo.

E o barulho? Parece que o mundo vai acabar. Ainda tenho os ouvidos a zumbir do único tiro que disparei sem os protetores auriculares. Mesmo com os protetores auriculares, uma pessoa sente-se um homem de barba rija de cada vez que prime o gatilho, devido ao som e à onda de choque que se sente.

O .357 SIG é muito comparável ao .40 S&W, do qual descende, sendo no entanto, bastante mais preciso devido a uma trajetória mais tensa do projétil. O .40 S&W proporciona melhores resultados contra um alvo diretamente exposto  enquanto que o .357 SIG é mais eficaz que o .40 S&W contra alvos protegidos, por exemplo dentro de automóveis ou atrás de portas.

Se me perguntam se a Glock 32 é melhor que a 23 ou a 19, terei que responder que, para uns sim, mas, para outros não. Não a considero uma boa escolha para atiradores inexperientes nem para atiradores que não estejam dispostos a treinar bastante com ela de forma a conseguirem ultrapassar o recuo e aproveitar todas as vantagens que tem face à 23 e 19.

Em jeito de conclusão tenho que dizer que, recomendo vivamente esta arma. Se pertences a uma força de autoridade, não tens medo do coice nem do custo elevado das munições, esta é a arma certa para ti.





E lembrem-se, não se deixem apanhar!

1 comentário:

  1. Primeiramente, felicitar pelo conteúdo muito bem explanado. Se não for demasiada ousadia, e por curiosidade, gostaria que me explicasse, se possível, a diferença entre indicador de percutor armado e indicador de munição na câmara, sem ser na Glock, em pistolas semiautomáticas «blowback/expansão de gases e inércia de massas». Vejo imensa literatura em Inglês mas ainda não consegui perceber exatamente a diferença, principalmente, a visual.
    Esta e o desarmador de cão (conheço perfeitamente as peças, embora a mecânica (balística interna) não seja o meu forte) são as duas únicas dúvidas que me assaltam o espírito, isto numa perspetiva de ter que, por exemplo, explicar a outrem, pois, por motivos que por ora não interessam, manuseio imensas armas.
    Grato pela atenção,
    José Carlos de Oliveira

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