sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Curso - Tactical Carbine 1




Estes são os meus apontamentos relativos ao curso Carbine Tactics Level 1 que tirei em Miami em 2013. Trata-se daquilo que me ficou na memória referente a esses 2 dias.

Este texto está integrado no relato da viagem a Miami 2013. Quem já leu este relato não vai encontrar aqui informação adicional. Faço esta separação para facilitar a vida a quem gosta de tiro e de armas, mas não se interessa por viagens.



11-10-2013 - Miami - Clewiston - Miami

Acordei às 05:45h de forma a ter tempo de tomar banho e de tomar um pequeno-almoço gigantesco que me desse energia para um dia em grande, cheio de exercício físico. Enquanto me despachava, ainda consegui acordar a Vaselina e a Piratita devido ao barulho que fazia enquanto me despachava

Depois de me despedir delas, desci para o lobby onde já tinha o Andy Blaschick, da Tactical Firearms Academy à minha espera. Estava com medo de não o conseguir reconhecer, medo esse totalmente injustificado devido à publicidade estampada na sua roupa. A carrinha, uma Dodge RAM gigantesca, também estava completamente decorada com autocolantes da Tactical Firearms Acadedmy (TFA).





Partimos sem demoras pois tínhamos 2h de viagem pela frente até chegarmos à carreira de tiro. Pelo caminho foi-me perguntando coisas relativas à minha experiência com armas, ao meu curso anterior, de onde vinha a minha paixão pelas armas, etc. Também falámos um pouco da TFA  e da sua empresa mãe, a KGB Armament.  Esta empresa tem licença para fabrico de armas, o que quer dizer que pode fabricar e converter armas semi-automáticas em armas automáticas. O Andy já me tinha dito que a maioria das suas armas eram completamente automáticas e que, todas as que iríamos usar no curso também seriam full auto.

Pelo caminho ainda parámos num Mcdonalds para usar o WC e numa bomba de combustível para eu comprar agua suficiente para todo o dia.

Chegados ao sitio onde ia decorrer o curso, um aeródromo privado, no Fly-In Ranch, noto uma grande preocupação com a segurança. Ainda antes de entrarmos na propriedade, está uma placa metálica de dimensões generosas que alerta para o facto de de haver uma carreira de tiro dentro da propriedade. Existe uma placa mais pequena que é reversível e que indica se a carreira de tiro está, ou não, ativa. Cada vez que a TFA faz um curso ali, roda a placa para a parte vermelha, voltando a alterar no final do curso. Ainda existe outra destas placas, dentro da propriedade, mais próxima da carreira de tiro.




As instalações são compostas por umas mesas de plástico com bancos corridos e uma estrutura metálica a segurar umas folhas de zinco que nos protegem do sol e da chuva. O Andy retira as armas e munições da carrinha, empresta-me um cinto e manda-me preparar enquanto ele coloca os alvos em posição. Depois de lutar bastante contra o equipamento lá consigo por o porta carregadores no cinto e o coldre da Glock. Agora já só me faltam encher 3 carregadores de pistola e outros 3 de fuzil. Os de fuzil são fáceis de carregar, basta pressionar as munições contra os lábios que elas ficam retidas no carregador. Apenas temos que ter atenção e não carregar demasiado o carregador pois um carregador demasiado cheio não fica retido na carabina. Temos sempre que garantir que se consegue comprimir um pouco a mola. E relação aos da Glock, só os consigo carregar usando o spead loader que a Glock fornece com cada arma. Não é tão bom quanto o que usei no outro curso, mas serve.

As calças Helikon-Tex Urban Tactical Pants, têm 2 bolsos que parecem feitos à medida para os carregadores da Glock 18. Para além destes bolsos estas calças têm muitos outros que se revelaram excelentes para armazenar uma grande quantidade de munições, carregadores, telefones e carteira. Para além disso são muito leves e confortáveis. No ano passado tinha feito o curso de jeans, mas aprendi a minha lição e não vou voltar a usar jeans num destes cursos. Os jeans limitam os movimentos, são pesados e, principalmente, não têm poucos bolsos e pouca capacidade de carga.





Chega finalmente a altura de começar o curso de Carbine Tactics I. Começamos por desmontar uma das AR15 para que eu perceba como funciona o sistema. Muitas das peças eu já conhecia, de tudo o que tinha lido e visto no YouTube antes do curso, mas é diferente contactar fisicamente com os componentes. O que saltou mais à vista foi que o Andy não tem cuidados nenhuns de manutenção com as suas armas. Todas as armas que usamos tinham doses generosas de ferrugem e depósitos de carbono resultantes dos disparos. Mesmo as suas armas pessoais estavam num estado lastimoso. O Andy tinha peças suplentes para todos os seus fuzis, principalmente percutores, obturadores e molas para poder resolver no local possíveis avarias.

Depois de terminarmos a montagem das amas, aprendi as varias posições de “pronto” que existem. A mais comum, a "low ready" ou "rodesian ready". Nesta posição, empunhamos a arma com a coronha encostada ao ombro e com o cano num angulo de 45º a apontar para o chão. Nesta posição, a segurança manual deve ser desativada. A segurança manual apenas deve estar ativa quando não estamos a controlar a arma,por exemplo, quando esta está pendurada pela bandoleira. Para disparar apenas deve ser necessário elevar o cano e alinhar as miras com o alvo. Quase todos os exercícios começam com esta posição.

A outra posição de pronto que aprendi foi a "high ready", que é semelhante à anterior mas o cano já esta alinhado com o alvo, ficando as miras ligeiramente abaixo do nosso campo de visão, apenas o suficiente para que consigamos ver o nosso alvo por cima das miras. A segurança está desativada. Esta posição é usada para nos deslocarmos ao enfrentar uma ameaça. Podemos deslocar-nos para a frente, para trás ou lateralmente. Caso seja necessário disparar, apenas temos que subir a arma até que as miras estejam alinhadas com os nossos olhos e efetuar os disparos.




Em seguida estudámos os princípios básicos do tiro de precisão. Segundo a TFA existem 8 princípios básicos para um bom tiro. Vou enumera-los em inglês por ser mais fácil para mim:

1- Mindset - mentalização. O atirador tem que focar a mente no que está a tentar conseguir e acreditar que vai conseguir efetuar um tiro certeiro. Nem vale a pena tentar um disparo se acha que não vai conseguir acertar no alvo.

2 - Stance - postura corporal. O atirador deve assumir uma postura agressiva, em direção ao alvo, de frente para este, com os joelhos fletidos e o tronco inclinado para a frente. Os cotovelos deverão apontar para baixo e não para fora. O peso do corpo deve incidir mais sobre a parte da frente do pé e menos sobre o calcanhar. O Andy recomenda uma postura do tipo triângulo isósceles para a pistola e para a carabina.

3 - Grip - Empunhadura. Forma como se empunha a arma. Um fuzil ou carabina, deve ser empunhada de forma segura, com os polegares a apontar para a frente e com, pelo menos 4 pontos de contacto: a mão esquerda, a mão direita, o ombro e a bochecha. Os braços devem ficar o mais junto ao tronco possível, com os cotovelos a apontar para baixo. No caso da pistola, a mão dominante (direita), deve ser colocada o mais acima possível, enquanto que a mão de suporte deverá ficar agarrar a arma ligeiramente inclinada para a frente,de forma a “trancar” o pulso, ficando com o indicador por baixo do guarda-mato e com o polegar inclinado para a frente.




4 - Sight alignment - alinhamento das miras. Isto refere-se ao alinhamento da mira da frente com a traseira. No caso das carabinas usadas no curso, que estavam dotadas de mira de ponto vermelho, este alinhamento não faz tanto sentido pois, desde que o atirador consiga ver o ponto vermelho sobre o alvo, os tiros irão atingi-lo. No caso da pistola deve-se alinhar o topo da mira da frente com o topo da mira traseira e deve ficar centrada na lateral. No caso dos fuzis, a mira da frente deve ficar no meio do anel traseiro. Em ambos os casos, deve-se focar a mira da frente, nunca a mira traseira ou o alvo.

5 - Sight picture - posição das miras em relação ao alvo. No caso de armas com miras reguláveis, a posição destas em relação ao alvo pode ter que ser diferente para que os projecteis atinjam o alvo. Passo a exemplificar: ambas as carabinas usadas no curso tinham miras de ponto vermelho afinadas para o tiro a 200 m. Isto quer dizer que se fizermos tiro a 200 ou a 50 m temos que colocar o ponto vermelho mesmo em cima do alvo. Caso se faça tiro a menos de 50 m, temos que colocar o ponto vermelho acima do ponto de impacto no alvo. Caso se faça tiro entre os 50 e os 200 m temos que colocar o ponto vermelho abaixo do ponto de impacto no alvo. Caso se faça tiro acima dos 200 m apontamos de novo acima do alvo. Mesmo com miras metálicas, caso estas estejam num eixo acima do cano, teremos sempre que compensar esta diferença para tiros a curta distância. As miras podem ser afinadas para o centro do alvo que se pretende atingir ou para a base do mesmo (posição das 6 horas), dependendo da preferência do utilizador. Pessoalmente prefiro o cento do alvo. Para tiro de competição com o centro do alvo preto, devem-se afinar as miras para a base do alvo, para aumentar o contraste e facilitar a pontaria.

6- Trigger press and hold - pressão sobre o gatilho e retenção do mesmo. O gatilho deve-se premir, com a parte almofadada do dedo indicador, de forma suave e constante até à retaguarda até que o disparo seja efectuado. O gatilho deverá ficar retido na sua posição final até o atirador estar preparado para efectuar novo disparo ou decidir que não irá disparar mais.

7- Trigger reset - rearmar o gatilho. Deixar o gatilho regressar à frente apenas até ao ponto em que este fica rearmado, numa arma semi-automatica. O atirador deve sentir o mecanismo do gatilho a ficar ativo e deve ouvir o respectivo som.

8- Breath - respiração. Durante todo o processo o atirador não se pode esquecer de respirar. O disparo deve ser efetuado na pausa respiratória com os pulmões com pouco ar. Depois do disparo, o atirador deve inalar.






Depois desta dose de teoria (cerca de 1h), passámos à pratica. Qualquer fuzil baseado na plataforma AR15 deve ser preparado para disparar da seguinte forma:

1- Verificar de que lado do carregador está a 1ª munição.

2- Introduzir o carregador no recetáculo, até trancar, puxando-o em seguida para garantir que ficou trancado no lugar e que não cai sem se premir o botão de retenção do carregador.

3- Puxar a alavanca de carregamento ou manobrador à retaguarda, levando-o em seguida à frente e garantindo que fica trancada na posição frontal.

4- Verificar se temos munição na câmara. Isto pode ser feito de 2 maneiras. A que se aprende na tropa, ou seja, puxando pouco milímetros o obturador atrás para vermos a base do casquilho na câmara. Este método tem a desvantagem de termos que usar o botão de forward assist para que o obturador regresse à frente e tranque sobre a câmara. A mola de recuperação não tem força suficiente para que o processo seja automático.
Em alternativa temos o método que o Andy recomenda e que passa por retirar novamente o carregador da arma e observar se a primeira munição está do lado oposto ao que estava antes de se ter carregado a arma.




Alinhamos a 3 m do alvo e  efetuamos uns quantos disparos para que eu conseguisse perceber a diferença entre o ponto onde estava a apontar e o ponto de impacto dos projecteis. Como a mira esta afinada para os 50m, se quiser acertar num alvo a menor distancia, tenho que apontar para cima. A 3 m, tenho que apontar cerca de 3 ou 4 cm acima do que pretendo atingir.

Segue-se uma série de pares e trios controlados cujo objectivo era fazer vários buracos rasgados. Contra todas as expectativas, consegui uns resultados excelentes. Repetimos o processo a 5 e a 7m sempre com resultados acima do esperado. O fundamental estava percebido.

Seguidamente passámos aos recarregamentos. Tal como nas pistolas, existem 2 tipos de recarregamentos, o de emergência e o táctico. O recarregamento de emergência é o mais fácil. Prime-se, com o indicador da mão direita, o botão de ejecção do carregador, que deve cair livremente do seu receptáculo para o chão. Com a mão esquerda insere-se um novo carregador na arma, garantindo que este esta bem trancado e, com o polegar da mão esquerda, prime-se  a partilha que destranca o obturador, fazendo-o regressar a frente, recolhendo uma munição do carregador e deixando a arma pronta a fazer fogo.

 



O recarregamento táctico é ligeiramente mais difícil, principalmente para nabos como eu, que ainda tenho a agravante de ter mãos de fada. Este recarregamento faz-se quando, depois de efectuar alguns disparos, queremos passar de um carregador com quantidade incerta de munições para um carregador completo. Com a mão esquerda retiramos um carregador completo do porta carregadores, segurando-o o mais perto da base possível. Com o carregador completo na mão esquerda, agarramos o carregador que esta na arma o mais acima possível, usando a mão esquerda, enquanto que a direita prime o botão que liberta o carregador. Com os 2 carregadores na mão esquerda, insere-se o carregador completo no recetáculo, garantindo que fica trancado e guarda-se o outro carregador mm bolso ou porta carregadores. A contrario dos carregadores de pistola, os de fuzil devem ser colocados nos porta carregadores com as pontas dos projecteis viradas para trás.

Praticámos os recarregamentos com uma série de exercícios que só vieram confirmar o que eu já sabia... Os fuzis e carabinas são muito mais difíceis de operar para um lingrinhas como eu. Lutei bastante contra o peso, dimensões e controlos do meu M4, mas acabei por conseguir efectuar ambos os recarregamentos em tempo decente.

Passamos aos encravamentos que são bastante semelhantes aos das pistolas. Temos 4 tipos de encravamento. Falha ao disparar, falha ao ejetar, falha ao alimentar e falha ao extrair.





A falha ao disparar é a mais simples de resolver. Se premimos o gatilho e ouvimos o som mais alto do mundo (um click, no lugar de um bang), devemos empurrar e puxar o carregador para garantir que esta bem trancado em posição e puxar o manobrador atrás para retirar uma possível munição defeituosa da câmara e inserir uma nova. Ao puxar a alavanca de carga, deve-se rodar ligeiramente o fuzil para que a janela de ejeção aponte ligeiramente para baixo. Isto fará com que o cartuxo defeituoso saia mais facilmente por acção da gravidade. Depois de executado este procedimento deve-se analisar a situação e verificar se ainda é necessário disparar sobre o alvo.

A falha ao ejetar também é muito simples de resolver. A premir o gatilho, este não faz click. Está completamente inoperacional. Ao olhar para a janela de ejecção vemos um casquilho a impedir que o obturador regresse à frente e tranque sobre a câmara. Para resolver basta rodar a arma para a direita, para usar a força da gravidade e puxar p manobrador atrás para forçar a ejecção do casquilho e a entrada de uma munição nova para a câmara. Depois de executado este procedimento deve-se analisar a situação e verificar se ainda é necessário disparar sobre o alvo.

A falha ao alimentar (Double Feed) acontece quando a arma  empurra duas munições para a câmara ao mesmo tempo. Isto pode acontecer de duas forma, uma munição a frente e outra atrás ou duas em paralelo a tentar entrar na câmara. Isto pode acontecer com duas munições completas ou com um casquilho e uma munição completa. Para se resolver esta falha, deve-se retirar o carregador e puxar varias vezes atrás a alavanca de carregamento, para se extraírem as munições de dentro da caixa da culatra e câmara. Depois de desobstruída a arma, deve-se voltar a carregá-la e analisar a situação e verificar se ainda é necessário disparar sobre o alvo.




Por ultimo, aprendi a resolver a falha ao extrair, ou a "hard extraction". Esta acontece quando o casquilho vazio fica colado às paredes da câmara devido a falta de manutenção da arma. A arma não consegue extrair o casquilho da câmara e não é possível puxar a alavanca de carregamento atrás. Eu ainda nunca tinha ouvido falar deste tipo de avaria. No curso de tactical handgun não a aprendi, nem nunca deixei as minhas armas sujas até chegarem ao ponto de acontecer esta falha. Durante este curso, aconteceram inúmeras falhas destas, com ambos os fuzis e com a Glock 18. Para se resolver, no caso dos fuzis, retira-se o carregador, recolhe-se a coronha extensível e, com a mão esquerda no manobrador, a fazer força para trás, bate-se com a coronha no chão até que o casquilho saia da câmara.  Depois de desobstruída a arma, deve-se voltar a carregá-la e analisar a situação e verificar se ainda é necessário disparar sobre o alvo. No caso das pistolas, as resolução é semelhante. Segura-se firmemente o topo da corrediça com a mão esquerda e com a direita dá-se uma pancada seca na empunhadura. Esta é a falha mais complicada de resolver.

Praticámos a resolução de problemas durante algum tempo com avarias preparadas pelo instrutor sem que eu soubesse qual seria ao problema. Ao fim de vários exercícios já não tinha grandes dificuldades a resolver os problemas, desde que os resolvesse lentamente. Nunca consegui fazer as coisas com a velocidade que faço com as pistolas.

Por esta altura já estávamos ambos esfomeados e decidimos parar e fazer um almoço rápido à base de sandes enquanto que eu atestava os carregadores.




Depois de um almoço relâmpago, voltámos aos encravamentos e avarias, mas, desta vez, focámo-nos no tiro e não no encravamento, ou seja transitámos para a pistola, para resolver o problema que tínhamos pela frente e, só após termos neutralizado o alvo é que desencravavamos a carabina. Esta é a regra básica de resolver um encravamento com uma carabina. Até uma distância de 15m, se tivermos uma pistola, é sempre mais rápido segurar a carabina usando uma das técnicas aprendidas e passar para a pistola, só se desencravando a carabina quando todas as ameaças estiverem neutralizadas.

Existem várias técnicas para desviar a carabina para um dos lados, retendo-a de forma segura junto ao corpo, com a mão esquerda, de maneira a que não restrinja os movimentos do utilizador e permitindo usar a pistola com a mão direita. Uma destas técnicas pressupõe a utilização de uma bandoleira e consiste apenas em deixar cair a carabina para que fique entre as permas do utilizador. Esta técnica tem a vantagem de permitir usar a pistola, de forma mais eficaz, com ambas as mãos. Tem, no entanto, a desvantagem de esmagar os testículos do utilizador, se este se precisar de deslocar enquanto dispara (algo que deve sempre fazer). O que eu sofri com esta técnica até ser obrigado a desistir dela por já não aguentar mais as dores…

Depois das avarias e encravamentos chegou a vez das várias posições de tiro. Até aqui fizéramos sempre tiro de pé, que era a posição mais natural para mim e para a maioria dos atiradores.




O Andy explicou-me que a posição de pé é a mais dinâmica de todas as posições de tiro, mas também a mais instável. Deve ser evitada para tiros a longa distância e tiros de precisão, mesmo a curta distância. Claro que isto deveria ser obvio para mim e para a grande maioria dos atiradores, mas eu sempre me recusei a acreditar nisto e a usar outras posições.

A primeira posição alternativa de disparo que aprendi foi a de ajoelhado apenas com um joelho no chão. Para chegar a esta posição, deve-se dar um passo para a frente com o pé esquerdo e deixar cair o joelho direito para o chão. O Andy recomenda que se pise sempre terreno conhecido, por isso se dá o passo para a frente e não para trás. O joelho que fica elevado é sempre o do lado de apoio, o que, no meu caso é o lado esquerdo. Este joelho vai servir de apoio ao braço esquerdo. Aqui podemos escolher duas variantes. Ou apoiamos o braço à frente do joelho, ou atrás do mesmo. Por razões obvias, nunca se apoia o osso do cotovelo diretamente em cima do osso do joelho. Pessoalmente prefiro apoiar o cotovelo à frente do joelho, assumindo uma posição mais baixa e logo mais estável. Pode-se apoiar o rabo no calcanhar do pé direito. Com o tempo fiquei bastante fã desta posição.

Existe ainda outra alternativa à posição de um joelho no chão, que é a posição de dois joelhos no chão. Para atingirmos esta posição, damos um passo em frente com o pé esquerdo, deixamos cair o joelho direito para o chão e, em seguida juntamos o joelho esquerdo ao direito. esta posição é menos estável que a anterior, mas é muito mais versátil no caso de termos que disparar atrás de cobertura apoiando o fuzil com o ombro esquerdo, disparando “à canhota”. Esta é a posição de ajoelhado que o Andy recomenda e usa. Para mim, que tenho pouca força, esta posição é pior que a anterior. Se estiver a disparar uma pistola, a questão do peso não se coloca e prefiro esta posição.




Para tiros de muita precisão ou a grande distância (a partir de 100 m), deve-se usar a posição de deitado. Para se atingir esta posição, devemos dar um passo em frente com o pé esquerdo, deixar cair o joelho direito para o chão, juntar o joelho esquerdo ao direito, colocar a palma da mão esquerda no chão e empurrar os pés para trás até as pernas ficarem completamente esticadas, com os pés afastados e os dedos dos pés a apontar para fora. É a palma da mão esquerda que define a localização do atirador no chão. Os cotovelos apoiam no chão. Pode-se apoiar o carregador do fuzil no chão para ajudar a controlar o peso deste, mas esta prática pode, e no meu caso e no do Andy, causou encravamentos, o que nos levou a abandoná-la. Fizemos tiro a 100 m nesta posição e na de joelhos.

Depois de praticarmos todas as posições de disparo, paramos para um lanche ligeiro e o Andy disse-me que íamos passar o resto do tempo a fazer um exercício que ia pôr em prática quase toda a matéria aprendida durante este dia. Enquanto lanchava, preparei 3 carregadores com 5 munições cada.

O execício consiste em disparar sobre uma silhueta metálica com metade do tamanho de um adulto a 50 metros. Temos que disparar 5 tiros de pé, trocar de carregador, disparar 5 tiros ajoelhado, trocar de carregador e disparar os últimos 5 tiros. Como se isto não bastasse, o tempo limite é de 15 segundos!

O Andy, depois de ver a minha cara de parvo e ar incrédulo, mostra como se faz, e até faz com que aquilo pareça exequível. Consegue fazer tudo no limite dos 15 segundos falhando apenas 2 tiros. Agora era a minha vez… Que vergonha…

Inevitavelmente falhei o tempo catastróficamente e o alvo também. O que o Andy precisava para medir os meus tempos era um calendário e não um cronómetro. Já para não falar dos tiros que não acertavam no alvo devido à pressão do tempo. O Andy ia dando dicas para me ajudar a melhorar, mas o melhor que consegui foram 17 s com 3 tiros falhados. Foi das maiores vergonhas que passei com uma arma nas mãos. Para piorar as coisas, o Andy diz que é ele que detém o record daquele exercício, feito em 13 s, com todos os tiros no alvo. Foda-se!




Terminei o dia de treino exausto e derrotado. Sempre tive noção que os fuzis era mais difíceis de operar para quem não está em boa forma física, mas não pensei que fosse tão mais difícil. Nesta altura comecei a achar que havia grandes probabilidades de não passar o teste final do dia seguinte…

Para desanuviar despejei as munições que me restavam na Glock 18 em rajada. A arma encrava com uma hard extraction e tem que ser o Andy a desencravá-la. Observo na prática aquilo que já sabia em teoria. É muito difícil controlar uma pistola em rajada, principalmente para um lingrinhas como eu. A 3 m do alvo falho mais de 90% do tiros, mas divirto-me bastante enquanto os falho. Há qualquer coisa de especial em espalhar chumbo sobre uma área, a alta velocidade. Não sei se é o ruido, se a arma a lutar contra as minhas mãos. Só sei que não são os resultados obtidos.

Arrumámos as coisas, mudámos os sinais para indicar que a carreira de tiro já não se encontrava ativa e fizémo-nos ao caminho até Miami. O Andy aproveitou para ouvir o Voicemail e responder a SMS e chamadas telefónicas na viagem de regresso. Nos EUA é legar falar ao telefone enquanto se conduz, no entanto, apenas se podem enviar SMS se forem ditados. Tive que lutar bastante para não dormir a viagem toda. Não me lembro da ultima vez que estive assim tão cansado.







14-10-2013 - Miami - Clewiston - Miami

Como tinha combinado com o Andy acordei às 05:30h para estar pronto às 06:30h, depois de tomar banho e comer um pequeno-almoço gigantesco. Fizémo-nos ao caminho carregados de mantimentos. O Andy foi a viagem toda a ouvir um debate sobre o aumento da dívida pública dos EUA. Várias vezes tive vontade de lhe dizer que os EUA poderão vir a ficar falidos, como Portugal, se continuarem a aumentar a dívida, mas consegui-me conter. Fizemos a tradicional paragem no McDonalds para ir ao WC e para o Andy tomar o pequeno almoço. No tablier vejo um envelope com o que parece ser o meu certificado. Ou ele está demasiado confiante em relação às minhas capacidades ou vai dar-me o certificado independentemente da minha pontuação no teste.

Chegados à carreira de tiro, depois de mudar os sinais a indicar atividade, descarregamos as coisas da carrinha e começamos a preparar o dia. O Andy diz-me que vou precisar de 42 munições para fazer o teste final e recomenda que reserve munições suficientes para repetir o teste caso falhe da primeira vez. Agora já começo a perceber poque é que o certificado já vem impresso. Reservei 90 munições para o teste e para brincar no final.

Aproveitei para lhe pedir para usar a versão mais curta e leve da AR-15, a Comando. Fizemos uns exercícios de aquecimento e começo logo a notar beneficios na minha performance com esta arma. Apesar de não ser muito mais leve, para mim torna-se mais fácil de manejar.




Enquanto fazemos os exercícios de aquecimento, e revemos a matéria do dia anterior, chega um aluno do Andy, que é polícia e que vem afinar as miras de uma carabina Savage  no calibre .308 Winchester, que acabou de instalar. Durante as pausas e o período de almoço pode ao Andy para o ajudar a calibrar e testar a mira.

Depois do aquecimento começamos a falar de disparar em movimento. Toda a aula deste dia iria ser feita em movimento. Muitos dos movimentos que o Andy me ensinou com o fuzil, já tinha aprendido no curso de pistola no ano passado com o John Kern da Combat Tactical Academy.

Em primeiro lugar aprendi a movimentar-me para a frente e para trás. Com a carabina em “high ready” para ter uma boa visão periférica e conseguir alinhar as miras rapidamente. Se nos pretendermos aproximar do alvo devemos caminhar com as pernas fletidas, com passos curtos, mas rápidos, apoiando sempre primeiro o calcanhar e só depois os dedos dos pés. Se nos quisermos afastar do alvo, devemos apoiar primeiro os dedos dos pés e só depois os calcanhares. Os restantes movimentos são iguais. Sempre que recebemos a ordem para disparar, devemos manter o movimento, elevar ligeiramente a arma até se conseguir visualizar a mira e premir o gatilho quando a mira estiver sobre o alvo. Das primeiras vezes que se faz este exercício, é bastante difícil acertar no alvo devido ao movimento das miras em relação ao alvo mas, ao fim de algumas repetições, já conseguia fazer disparos na cabeça, na zona A de um alvo IPSC. O fuzil encravou várias vezes durante este exercício, obrigando-me a transitar para a pistola para terminar os execícios.

Para nos movimentarmos lateralmente, usamos novamente a posição de “high ready”. O movimento começa deslocando a perna direita (se nos pretendermos deslocar para a direita) para a direita, acompanhado pelo respetivo movimento da perna esquerda. O movimento deve terminar com os pés separados tal como estavam originalmente. Este movimento serve para nos afastarmos da linha de tiro do adversário, devendo efetuar um par controlado no final deste ou, em caso de necessidade repetir o movimento, continuando a deslocar-nos como um caranguejo. 

Fazemos mais execícios de deslocação lateral e, em seguida combinamos os movimentos frontais com os laterais. Segundo o Andy, devemos iniciar sempre com um passo para o lado e depois avançar ou recuar, dependendo da situação. A esta combinação de movimentos chama-se “Tactical L” ou “L Tático”. Fazemos vários execícios para praticar este movimento.


Chega agora a altura de disparar a partir de cobertura. Empilhamos 2 bidões de plástico em cima um do outro que servirão de cobertura. Ao contrário do que se vê nos filmes, não nos devemos aproximar demasiado do objeto que nos dá cobertura. Exitem 3 razões para não nos aproximarmos da cobertura:

1- Para termos mais liberdade de movimentos, sem estarmos a bater com o cano ou com o corpo na cobertura.

2- Para evitarmos possíveis estilhaços provocados pelo fogo inimigo. 

3- Para impedirmos que um inimigo que esteja do outro lado da cobertura nos agarre o cano da arma e a neutralize.

Atrás de cobertura, devemos sempre ir avançando com pequenos passos e inclinando o corpo, expondo o mínimo possível deste, mas, depois de avançarmos um pouco, não devemos nunca recuar. Não estamos a brincar as escondidas!




Se espreitarmos pelo dado direito da cobertura, devemos ter a arma no ombro direito, enquanto que se espreitarmos pelo lado esquerdo devemos disparar a arma com o lado esquerdo, independentemente de sermos dextros ou canhotos. Isto permite-nos expor sempre o mínimo possível, do nosso próprio corpo. 

Sempre pensei que não conseguia disparar um fuzil do lado esquerdo. Sem nunca ter experimentado achava a posição estranhíssima, tinha medo de levar com os casquilhos na cara. Mesmo quando via canhotos a disparar, tinha dificuldade em perceber como conseguiam. Agora, já com alguma prática, percebo que é muito fácil e seguro disparar com o ombro esquero. Para além de achar a posição confortável, consigo disparar com os 2 olhos abertos muito mais fácilmente pois o meu olho dominante é o esquerdo. No ano passado já tinha aprendido que disparava uma pistola de forma mais precisa com a mão esquerda, este ano  descubro que o mesmo também é verdade para os fuzis. Acho que isto se deve ao facto de disparar com mais cuidado com o indicador esquerdo que não tem os vícios do direito. Ou isso ou sou um canhoto frustrado.

Depois de fazermos vários exercícios por trás da barricada, disparando de pé, de joelhos e deitado, usando ambos os ombros, direito e esquerdo, fizemos uma breve pausa para almoço. A matéria estava terminada, depois do almoço seria o exame. Cada segundo que passa me aumenta a sensação de que não vou passar no exame, mesmo à segunda tentativa.

Chegada a hora H, com 42 munições em 2 carregadores, inicio o exame. Fico logo com vontade de desistir quando ainda antes de dar um único tiro o Andy me diz que tenho que correr da linha dos 50 m para a linha dos 100. Correr?! Eu?! Bem, cá vai disto…




Chegado à linha dos 100 m, já com a pulsação acelerada, faço várias séries de pares controlados na posição deitado. Não consigo ter a noção da precisão dos disparos. O Andy conta o tempo em voz alta, facilitando a minha gestão.

Passamos para a linha dos 50 m, onde faço mais umas séries de disparos deitado e ajoelhado. Uma destas séries envolve uma troca de carregador. Cagativo.

Na linha dos 25 m, efetuamos disparos de pé e em movimento em direção ao alvo e afastando-nos do mesmo.

Terminamos o teste com alguns disparos a curta distância sem olhar pelas miras, apenas alinhando cano com o tronco do alvo. 

Chega agora a hora de fazer as contas. Apesar da minha espectativa inicial, acho que nem me correu assim tão mal. Tenho que conseguir 38 tiros nas àreas A e B do alvo e… consegui 39... Vejo pela cara dele que o Andy ficou tão surpreendido com o resultado quanto eu. Aparentemente passei!!! Mesmo no limite, mas o que interessa é que passei. Já ca tenho o certificado!





Como ainda temos bastante tempo para gastar, o Andy propõe-me fazer o exame outra vez para melhorar a classificação, mas adverte que, se chumbar, perco o direito ao certificado. Depois de ponderar durante zero segundos estico-lhe o dedo do meio .|. e recuso educadamente. Já cá tenho o certificado, não vou arriscar sair de cá de mãos a abanar.

Para gastar o tempo que ainda temos disponível, o Andy propõe-me fazer o exame do curso de Pistola 1. Ele explica que o exame de pistola é semelhante ao de carabina que acabei de fazer, apenas adaptado à pistola e com a vantagem de apenas precisar de 34 tiros nas zonas A e B do alvo para passar. Aceito fazer o exame com a arrogância de quem acabou de passar num exame que nunca esperou ter passado. Para além disto este exame pareceu-me muito mais fácil do que do ano passado em Las Vegas. Vou fazer isto a cagar, de olhos fechados e com as duas mãos atrás das costas. O Andy pergunta-me se quero fazer 5 disparos extra, no final do exame que me permitirão passar com distinção, mas que me poderão subtrair pontos da classificação final, se os falhar. Claro que quero dar mais 5 tiros! Sou o máior, não sou?

Este exame começa com várias séries de tiros rápidos na linha dos 7 m. Começo a lutar contra o tempo. Faço alguns disparos fora do tempo. Ainda mal comecei o exame e já estou a entrar em descontos. Numa destas séries temos que fazer uma troca de carregador que decorreu sem problemas e dentro do tempo.




A 2 m do alvo fazemos uma série de disparos a partir da posição de “inside ready”, ou seja com os braços encolhidos e sem olhar pelas miras. Caso eu estique os braços sou imediatamente desqualificado, coisa que me acontece imediatamente. Não sei em que estava a pensar, mas estiquei os braços. Apesar de já ter chumbado no exame, decidimos continuar. Desta forma preparava-me para a 2ª tentativa. Ainda a 2 m, desta vez com disparando na posição certa, volto a não conseguir fazer alguns disparos dentro do tempo.

Afastamo-nos para a linha dos 25 m. Aqui temos que fazer os últimos 6 tiros em 20 s. Isto parece tão pouco tempo. Assim que o cronómetro apita, tiro a arma o mais rapidamente possível e disparo os 6 tiros quase de rajada, falhando-os todos.

Ainda tenho os 5 tiros extra, que deverão ser feitos para a cabeça, a 15 m, em 15 s. Mais uma vez falho quase todos os disparos.

Feitas as contas, no final, obtive um pontuação miserável. Mesmo que não tivesse sido desqualificado, não passava no exame. Sinceramente não me lembro da pontuação que fiz, mas foi tão má que, mesmo que me lembrasse negava-o. A arrogância que tinha à 10 minutos atrás desapareceu sem deixar rasto.




Vamos à segunda tentativa. Desta vez já não quero os 5 tiros extra. Talvez consiga passar se não me forem descontados estes 5 tiros. Apesar de não ser desqualificado devido a erros estúpidos, continuo a não ter tempo para completar algumas séries de tiros a curta distância e a falhar demasiados tiros. Feitas as contas, no final do exame obtenho 32, quando necessitava de 34. Ora aqui está uma bela lição de humildade. Vinha a descobrir mais tarde, que o exame de Tactical Pistol 1 da TFA não tinha limite de tempo. Os exames que acabei de fazer eram os de Tactical Pistol II, com os 5 tiros adicionais. Seja de que maneira for, não tenho grande desculpa para ter chumbado para além de falta de habilidade, nabisse. Os meus conhecimentos eram mais que suficientes para passar nisto. Foda-se!

Para descontrair um bocado, o Andy leva-me para outra carreira de tiro, ao lado desta que permite fazer tiros a longa distância. Aqui, fizemos tiro a 50 m, com fuzil a pequenos círculos metálicos e, com pistola, a uma placa com 18 x 24’’, que tem dimensões semelhantes às de um tronco humano, sem o pescoço e a cabeça. Já tinha feito tiro a distâncias semelhantes com pistola e não tive grande dificuldade a acertar no alvo.

Passamos para os 100 m. O Andy faz uns tiros de exemplo para me demonstrar que é possível acertar num alvo a 100 m com um pistola e, a seguir sou eu. Uma vez mais, consigo acertar sem problemas, tanto com a carabina como com a pistola.




Passamos para os 150 m. Aqui as coisas já começam a complicar. Com o AR-15 já tenho que disparar apoiado no joelho para conseguir acertar no alvo pequeno. Com a pistola, as miras tampam completamente o alvo. Disparo completamente às cegas e só acerto um tiro em cerca de 5, no alvo grande. Assim que ouço o som do projétil a bater no alvo, coloco imediatamente a pistola no coldre e digo ao  Andy que estou pronto para os 200 m. Tinha que poupar munições para os alvos seguintes e para disparar uns tiros em rajada. Por esta altura já tinha gasto as minhas 1000 munições de fuzil e 200 de pistola e já estava a gastar das do Andy.

Nos 200 m, está uma 9 hole wall, que consiste numa parede de madeira com vários buracos de vários formatos e a várias alturas do solo. O Andy desafia-me a acertar no alvo pequeno com a carabina a partir de todos os buracos. Consigo fazê-lo de todos exceto dos buracos que se encontram rentes ao chão, a partir dos quais é impossível ver o alvo por causa da altura da erva. Com a pistola, o Andy nem sequer tenta fazer tiro desapoiado. Mesmo com a pistola apoiada na parede de madeira o Andy acerta no alvo uma única vez, com alguma dificuldade.

Chegada a minha vez de fazer tiro com a Glock 18 a 200 m, uma vez mais, a arrogância toma conta de mim. Decido fazer tiro não apoiado. Já tinha visto no Youtube o Hickok45 a fazer tiro a 230 m com as Glocks pequenas e , se um velho consegue acertar num alvo a 230 m com uma “Baby Glock”, por que razão é que eu não irei conseguir?

Coloco a mira da frente ligeiramente acima do alvo, o que àquela distância deve corresponder a mais de 30 cm acima do topo do alvo. Seguro a arma com toda a força que tenho nos meus fracos músculos. Procuro a pausa respiratória. Nunca estive tão concentrado na vida. Vou espremendo o gatilho com a maior suavidade que consigo e… nada… Falho o alvo.Tanta concentração para nada. Vamos à segunda tentativa. Passo pelo mesmo processo descrito anteriormente. Disparo o tiro e… magia acontece. Àquela distância, o projéctil demora muito tempo a chegar ao alvo e o som ainda demora mais até chegar aos nossos ouvidos, mas claramente tinha atingido o alvo metálico a 200 m, com uma Glock que tem fama de ter um mau gatilho. Ainda por cima tinha o Andy como testemunha.




Esta devia ser a altura em que eu passava à fase seguinte, enquanto as coisas estavam a correr bem, mas não… queria ver se conseguia repetir a gracinha e acertar mais umas quantas vezes no alvo a 200 m. Caguei para o bom senso e disparei mais 7 ou 8 tiros, dos quais acerto mais 3. Isto serve, certamente, para compensar a minha prestação vergonhosa nos exames de pistola. Cum catano, acabei de acertar 4 tiros num alvo a 200 m! Nunca pensei ser capaz de tal feito. Nada mal para um nabo com eu!

Chegamos ao extremo da carreira de tiro, a 289 dos alvos. Devido à altura da relva, tenho que me deitar em cima de uma mesa de plástico para conseguir ver os alvos. Desta posição pouco estável consigo acertar 3 ou 4 tiros no alvo pequeno. Pensei que fosse mais difícil. O sistema AR-15 com o calibre 5,56 mm NATO é mesmo muito preciso.Claro que enquanto disparava com a carabina, só pensava em disparar com a pistola. Se um pensionista idoso como o Hickok45 consegue acertar num alvo a 230 m, um gajo viril como eu tem que conseguir a 289, pelo menos.

Com o mesmo grau de concentração que usei a 200 m faço cerca de 12 tiros, dos quais acerto… nenhum. Foda-se la vai o meu ego, de novo, por água abaixo. Os tiros acertavam nas proximidades do alvo, mas não se conseguia ver exatamente onde e, portanto, não dava para os corrigir. Lá se vai o meu sonho de me conseguir considerar melhor que o Hickok45. Nem sequer posso dizer que sou tão bom quanto ele. Acho que, se continuasse a disparar iria acabar por acertar no alvo mas queria reservar as ultimas munições para disparar em rajada com a Glock 18. Por causa da ganância sou forçado a admitir que não disparo tão bem como um velho de sessenta e tal anos. Uma vergonha!





De regresso à carreira de tiro original, alinho a 7 m do alvo com a minha AR-15 para disparar um carregador em rajada. O disparo em rajada é feito na mesma posição que o disparo tiro a tiro, apenas temos que usar uma postura mais agressiva, inclinada para a frente para compensar o recuo da arma. Faço várias séries de 4 ou 5 disparos,conseguindo resultados fantásticos no alvo. Os tiros ficam todos agrupados no centro do alvo. Até parecia que tinham sido feitos em modo semi-automático. Já tinha disparado várias armas em rajada, no ano anterior, mas não tinha conseguido com nenhuma (exceto com a FN P90), resultados remotamente equiparáveis. Atribui a culpa às armas quando, na verdade, a devia atribuir a mim próprio. Umas horas de formação fazem milagres na minha prestação. O Andy ainda me deixa gastar as últimas 7 ou 8 munições que tem no carregador do seu XCR. Claro que tinha que fazer merda com a arma dele. Disparo as munições todas numa única rajada e, como não me inclino suficientemente para a frente,termino a rajada inclinado para trás, apoiado apenas nos calcanhares. O Andy fartou-se de gozar comigo por causa disto.

Com a Glock passa-se mais ou menos o mesmo. Num carregador com 17 munições, apenas acerto com duas no alvo. Quando conseguiu parar de rir, o Andy mostra-me como se controla uma pistola e rajada. Em resumo, o truque é ter força para a manter sobre o alvo e trancar os pulsos não deixando a arma subir descontroladamente. A técnica que ele usa é igual à minha, apenas difere a força. 

Já sem munições, chega a hora de apanhar os casquilhos vazios. No final de cada curso, o Andy e os seus alunos apanham a maioria dos casquilhos vazios do chão. Isto serve para o Andy ganhar uns trocos com a reciclagem e para ninguém se magoar quando anda a rebolar pelo chão. Deixem-me que vos diga que, andar quase 1h de cu para o ar a apanhar casquilhos não é, de todo, divertido.

Já no carro, depois de termos arrumado tudo, o Andy dá-me o certificado que recebo com bastante orgulho. Nunca pensei consegui-lo! Durante a viagem de regresso aproveito para fazer uma infinidade de perguntas parvas sobre armas e sobre os cursos que a TFA oferece.







The end.


E lembrem-se, não se deixem apanhar.


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